A Religião como elemento de análise para os estudos historiográficos sobre a Guerra Fria.

Fonte: Os Três Grandes na Conferência de Teerã, 1943 - Fotos Históricas Raras - A Teerã foi uma reunião estratégica de Joseph Stalin, Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill de 28 de novembro a 1º de dezembro de 1943. Foi realizada na embaixada da União Soviética. 

Dr. Rubem A. Mariano*
Psicólogo - CRP 08/14994
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*Doutor em Historia Política pela Universidade Estadual de Maringá e Cientista da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.

INTRODUÇÃO

 "Nada mais legítimo, nada mais constantemente salutar do que centrar o estudo de uma sociedade em um de seus aspectos particulares, ou, melhor ainda, em um dos problemas precisos que levantam este ou aquele desses aspectos: crença, economia, estrutura das classes ou dos grupos, crises políticas."

 

Marc Bloch (Apologia da História ou o Oficio de historiador, edição brasileira, 2002, p. 30)

 

Compreendo que toda pesquisa científica é realizada a partir de um campo do conhecimento, que se estrutura também a partir de um conjunto sistemático de elaborações especificas epistemológica e metodologicamente. Essa observação, simples e pedagógica, possibilita explicitar a quem lê um artigo científico compreender que toda e qualquer produção cientifica tem sua realização a partir de um determinado campo do conhecimento (referencial ou perspectiva) e de suas condições sine qua non de produção, como os aspectos sociais, culturais e subjetivos.

A afirmação de Bloch (2002)2, na epigrafe acima, é um exemplo oportuno a atividade de pesquisa historiográfica. Para se compreender uma sociedade é imprescindível estudar de forma problematizada aspectos particulares dela, como: crença, economia, estrutura das classes ou dos grupos, crises políticas, e eu acrescento, dentre outras: as questões diversidade de gênero e, hoje, por causa da pandemia da COVID-193, de saúde pública e sanitária.        

      O presente artigo é uma contribuição teórico-reflexiva, a partir das referências especializadas no campo e nos estudos publicados, na atualidade, sobre à Guerra Fria3 (1945-1991), de seus desdobramentos históricos, historiográficos4, bem como da presença da Religião5 como elemento importante de análise política e de representação social e cultural nas discussões a partir das pesquisas e também das novas visitações a respeito desse evento. Ressalto, portanto, que este escrito está relacionado temporal e é pertinente à historicidade social e política do período da Guerra Fria nos continentes Europeu e Americano com destaque pontual para o Brasil. Nesse sentido, os limites temporais da área de conhecimento estão relacionados à História do Tempo Presente – HTP6.

            PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES AO TEMA

A presente discussão sobre Religião e Guerra Fria, parto inicialmente dos estudos de Westad (2010)7 em seu artigo:The Cold War and the international history of the twentieth century”. Para este pesquisador a Guerra Fria foi um choque de ideias e culturas, tanto militares quanto de conflitos estratégicos; entre esses conflitos, destaca o das ideias religiosas.

Desde o início do século XXI8, já existem estudos que contemplam a Religião como importante espaço político e estratégico de confronto entre EUA e URSS e os países envolvidos. Por conseguinte, a Religião foi utilizada pelos Estados Unidos, um país religioso de corte cristão, em sua maioria protestante, à serviço dos seus interesses; tanto internamente, em suas próprias fronteiras, quanto nos países aliados ou em disputa, como foi o caso do Brasil, dentre outros países, do Terceiro Mundo. Por exemplo, no Brasil, a questão religiosa envolveu à associação da Rússia ao Comunismo e ao ateísmo e vice-versa como uma franca ameaça à fé Cristã.9 Nesse cenário, os Estados Unidos construíram uma imagem positiva de um país cristão, que respeitava e acolhia prontamente à fé Cristã enquanto a União Soviética era a inimiga atroz.

      Observo, nos estudos sobre a Guerra Fria, que há, de forma consistente e robusta, uma forte tradição de pesquisas que revelam os seguintes temas: política internacional, diplomacia, estratégias de guerra e guerra nuclear, economia, capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, anticomunismo, imperialismo, ideologia, liderança política, projetos de modernização, aliados e blocos de poder, geopolítica, dentre outros. Observo ainda que esses temas – quando revisitados – possibilitam novas luzes compreensivas e interpretativas sobre a Guerra Fria, mesmo com acesso a arquivos inacessíveis. Não somente por causa da inacessibilidade aos arquivos, mas percebo que há lacunas que suscitam fortes contestações ainda sobre a história da Guerra Fria, é isso que depreendo, por exemplo, das elaborações e afirmações de Kirby (2003)10 e (2018)11 e Munhoz (2020)12. Nesse contexto, paulatinamente, noto e constato que tem saído da periferia das discussões sobre Guerra Fria para o centro dos debates, um outro tema: a Religião.

            A GUERRA FRIA

Antes de avançar ao encontro do assunto central deste artigo, quero precisar – como um flash – o entendimento como se deu e se desenvolveu a Guerra Fria. Para isso, parto das contribuições dos seguintes autores: Pechatnov (2010)13, Leffler (2010)14 e Munhoz (2020)15. Os referidos autores apontam que a Guerra Fria teve seu início e desenvolvimento durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), uma vez que, em especial, as duas personagens principais desse grande confronto – EUA e URSS – construíram uma aliança estratégica para vencer um inimigo comum – Alemanha de Hitler – todavia esses dois países ambicionavam, de fato, a condição de liderança mundial através da implantação dos seus respectivos projetos modernizadores.

Ambos os projetos se configuraram profundamente antagônicos e divergentes em suas elaborações e implementações: de um lado, os Estados Unidos com o mundo capitalista e, do outro, a União Soviética com o mundo socialista. Ambições a parte, os conflitos se estabeleceram de forma gradual, crescente, alternado e extensivo: enquanto os russos construíam as condições para se constituírem a médio e longo prazo como uma das principais potências no novo mundo que se descortinava; os estadunidenses, por sua vez, construíram a passos céleres o que acreditavam ser um país hegemônico mundialmente (MUNHOZ, 2020)16.

Saliento, ainda, que as duas superpotências, em meio aos confrontos com seu inimigo comum – a Alemanha – foram se constituindo (precavendo-se pari passu) a partir de suas condições econômicas, militares e estratégicas, tanto interna quanto externamente. Diante disso, observo também que os outros países foram se constituído numa certa condição de coadjuvantes, em meio à disputa entre as duas grandes potenciais, como: Alemanha, França, Itália, Japão, China dentre outros, no primeiro momento, e depois os países do Terceiro Mundo, os quais também foram disputados por essas duas potências, como forma de extensão e manutenção dos seus respectivos poderes políticos e econômicos, e assim poderiam avançar na promoção mundial de suas ideias e culturas respectivamente. 

Portanto, logo após a Segunda Guerra Mundial, observo, por sua vez, que tanto EUA quanto URSS promoviam ações no campo da política diplomática sempre à sombra dos possíveis conflitos e de iminência de uma guerra atômica. As razões que possam justificar tal comportamento, de ambas as nações, passavam pelas condições de manutenção e desenvolvimento de suas reservas econômicas e de condição política quer em suas próprias fronteiras, em seu interior, ou no interior daqueles países já aliados ou daqueles que tinham condição de se tornarem novos aliados estratégicos (MUNHOZ, 2020)17.

Importante observar, ainda, ambos os países fundamentavam suas ações diplomáticas a partir de suas crenças ideológicas e de seus interesses. Ou seja: prosperidade econômica para o mundo estadunidense, no capitalismo liberal e a busca do ideário igualitário das condições econômicas e sociais de vida, no mundo socialista. Nesse sentido, observo que o mundo havia se tornado pequeno demais para comportar ambos os projetos modernizantes. A percepção é que ambos os projetos eram completamente excludentes e ameaçadores e assim agiam como se as ações da contraparte fossem destrutivas e de fim fatal. Principalmente, se for tomada como referência às ideias de George F. Kennan (1904-2005) durante a Guerra Fria, o qual consagrou-se como o “pai da contenção” diante da chamada: ameaça soviética. Este compreendia que eram irreconciliáveis ambos os projetos de mundo (KENNAN, 1985)18.  Nesse sentido, MUNHOZ (2020)19 quando trata de Kennan e da política externa ressalta que o principal desafio interposto ao Estados Unidos pela União Soviética, na primeira fase da Guerra Fria, não era militar, mas a capacidade de atração ideológica do comunismo no interior das sociedades democráticas ocidentais.

Compreendo ser pertinente observar que os conflitos entre EUA e URSS, ao logo da Guerra Fria, caminhavam muitas vezes para o campo ideológico e estratégico, sempre à sobra de uma possível guerra nuclear; contudo houve um período, entre as décadas 1960 e 1970, denominada de Détente em que esses conflitos foram arrefecidos. Isso que depreendo das informações de Munhoz e Rollo (2014)20 e Munhoz (2020)21 sobre a Détente ou as Détentes. Ambos autores advogam, não somente uma Détente entre EUA e URSS, também houveram Détentes entre países europeus e a URSS.    

Mas o que foi a Détente ou que foram as Détentes? Foi quando EUA e URSS, ou entre os países europeus e a URSS e, buscavam se relacionar, na medida do que se pudesse conceber como razoável busca pela convivência. Tal período surgiu face aos inúmeros e extremados conflitos existentes, na construção de padrões de tolerância e de alternativas. A criação de uma possível pauta comum de negociação a respeito dos principais temas estruturantes de desenvolvimento dessas nações. O que não era simples, uma vez que EUA e URSS com seus respectivos projetos de mundo: extremos e radicalmente adversos. Entre o capitalismo versus socialismo e suas ideologias e concepções de mundo se conflitavam, especial, na política econômica expansionista. Como, por exemplo, a ocupação de espaços/territórios (leia-se países aliados) em que havia, principalmente, a presença de petróleo e de gás natural (MUNHOZ E ROLLO (2014)22 e MUNHOZ (2020)23.

Observo, nesta parte, que os projetos das duas superpotências eram bem distintos. Suas ações sempre buscavam proporcionar alta e qualificada segurança para cada uma das superpotências, e, ao mesmo tempo, elas utilizavam dos outros países, como meio estratégico para avançar no domínio político, econômico e militar: por exemplo, como ocorreu na disputa da Alemanha pós Hitler e na disputa dos principias países do Terceiro Mundo, os quais eram detentores de riquezas ou de bens naturais, como o petróleo; bem como dos espaços geográficos de países vizinhos ou próximos como forma de construir sua defesa de invasores, como ocorreu nas disputas dos países do Leste Europeu próximos à URSS (MUNHOZ, 2020)24.

A RELIGIÃO COMO ELEMENTO IMPORTANTE DE ANÁLISE

Diante do exposto, concordo e amplio o debate, a partir das considerações de Westad (2010, p.13)25 que compreende que a Guerra Fria foi um choque de ideias e culturas, tanto militares quanto de conflitos estratégicos, assim ele afirma:

 

Diferente dos projetos nacionalistas na Europa e no Leste Asiático que levaram à guerra em 1914 e 1937-39, as ideias apresentadas pelos contendores americanos e soviéticos na Guerra Fria eram de natureza universal - deveriam ser válidas para todos os povos em todos os momentos, agora e para sempre. Em 1945, essas ideias - liberdade individual, anticoletivismo e valores de mercado do lado dos Estados Unidos; justiça social, coletivismo e planejamento estatal entre os soviéticos - haviam se endurecido em ideologias, nas quais ideais políticos universalistas se misturavam livremente com traços culturais mais antigos e específicos. As elites de ambos os países acreditavam que o futuro era deles, porque o mundo estava inevitavelmente se movendo na direção dos objetivos que eles próprios haviam traçado.


       Westad (2010)26 compreende também que o conteúdo da divergência entre russos e estadunidenses estava respectivamente no conflito ideológico construídos sob as esfinges do nacionalismo "estreito" e da Religião “irracional”. A despeito, inicialmente, do que o referido autor possa entender por religião irracional, é importante para este artigo, que o mesmo assinala sobre a Religião, no campo estadunidense. Observo que no entendimento de Westad (2010)27, a Religião foi um elemento importante no confronto, e o que me parece, por sua vez, também oportuno como chave de interpretação historiográfica para explicação das ações e decisões diante dos conflitos que ocorreram entre os dois países, mais especificamente, no campo das ideias28.

Corroborando ainda com o que compreendo e quero demostrar, neste artigo, Westad (2010, p. 16)29 afirma o seguinte:

Enquanto o avanço da modernidade eliminaria, com o tempo, essas relíquias do passado, o papel soviético e americano era identificar e apoiar as elites locais que ajudariam a abolir os conceitos locais de nação e religião o mais rápido. Ironicamente, uma vez que no final da Guerra Fria a União Soviética foi cada vez mais alimentada pelo particularismo russo e os Estados Unidos pelo evangelicalismo americano, seu apoio ao rolo compressor da modernização no Terceiro Mundo (capitalista ou socialista) nunca vacilou, pois o número de seus inimigos aumentou. Em países como a Etiópia ou o Irã, as intervenções das superpotências apoiaram guerras contra as identidades e crenças da grande maioria da população local.  

            Sem dúvida, o autor assinala e dá exemplos significativos que a religião foi um elemento importante nos conflitos, utilizada amplamente pelos Estados Unidos em suas ações para a sedimentação e o fortalecimento do seu projeto modernizador. Portanto, a religião funcionou como elemento unificador e consiste nos intentos expansionistas, em especial, na política internacional dos EUA diante da URSS30 e dos países envolvidos. 

Aproveito para assinalar duas questões a partir da citação acima de Westad (2010)31: a primeira é que o evangelicalismo americano32era pertencente ao segmento religioso cristão de corte protestante. A outra questão era que esse evangelicalismo tinha fortes raízes na formação e no imaginário americano (MENDONÇA, 2005)33. Seu entendimento, na atualidade, pode ajudar a explicar o porquê da importância que os Estados Unidos davam tanto à religião em suas ações na Guerra Fria.

O evangelicalismo foi originário dos grandes avivamentos religiosos que ocorreram na América do Norte, por volta dos primeiros anos do século XIX. Assim, a religião não pode ser entendida, apenas como mero instrumento ideológico, mas sim como elemento cultural e político significativo e presente nas ações estadunidenses, tanto internamente na unificação e no desenvolvimento da nação americana, quanto do seu desenvolvimento expansionista diante de outros os países, especialmente, com aqueles que já eram cristianizados ou que tinham a presença da tradição cristã, e principalmente, protestante, como era o caso do Brasil34.

Afinal, conforme Souza Junior (2016)35 os intentos e as ações imperialistas dos estadunidenses eram fundamentados pela ética do direito divino – calvinista36 – para expandir o território para levar a democracia e a liberdade a todos os cantos possíveis da América do Norte e para o mundo. Tanto o processo intenso de expansão geográfica, na década de 1820 – a chamada “Marcha para o Oeste” – e de industrialização do país pelo presidente James Monroe (1758 – 1831), o qual constituiu a “Doutrina Monroe” e dos sangrentos confrontos civis da Guerra da Secessão (1861-1865), que consolidou a ideia do “Destino Manifesto”37, nos Estados Unidos, quanto as origens religiosas pietistas de vertente calvinista – com a doutrina da predestinação – alimentavam assim o espírito americano na construção de uma identidade expansionista; ou seja, a formação de uma cultura predestina por Deus para ser um país promotor do Bem para os seus compatriotas e para o mundo, em que valores fundamentais como a liberdade e a democracia eram associados ao modo de vida do capitalismo liberal; esses deveriam ser adquiridos por todos os povos para o bem da humanidade e os Estados Unidos teriam essa missão, a qual era divina.

      Dessa maneira, identifico uma confluência entre a vida religiosa cristã – principalmente do protestantismo americano – e a democracia, a liberdade e os valores liberais. Uma verdadeira “religião civil” ou “religião de Estado”, nas palavras de Rodeghero (2002)38:


A “religião civil” seria, segundo Bellah, todo um corpo de crenças religiosas e valores morais que envolve a vida norte-americana, com o qual a maioria da população concorda e o qual tem lugar de destaque na retórica política: a crença de que Deus chamou os Estados Unidos para serem um “novo Israel”; de que Ele estará com o país até o julgamento final, o qual será muito severo; as noções de democracia, liberdade individual e pluralismo religioso; a tese de que Deus fez os Estados Unidos como um exílio para os oprimidos; e, finalmente, a doutrina de que Deus fez, na América, todos os homens iguais e deu a todos uma chance igual num novo país que deveria servir como exemplo diante do resto do mundo. A era de McCarthy viu uma renovação e intensificação dessa religião civil.

 

Nessa perspectiva, observo mais uma vez, que a religião não é compreendida como mero instrumento passivo, mas como elemento ativo e essencial de ampla influência cultural, econômica, política e social para os Estados Unidos. Outrossim, Souza Junior (2016, p.16)39 afirma que “foi por meio do “Destino Manifesto”, por exemplo, que o norte-americano se imbuiu da certeza de que estava predestinado a difundir o ideal democrático entre os países vizinhos e nos continentes do ultramar.”.

Nessa mesma direção, Mendonça (2005, p. 52)40 reforça ao relacionar o grande despertamento avivalista americano à vida progressista liberal: “a conversão, que no período do Grande Despertamento era mais propriamente uma “reconsagração” à vida devota, reajustava o indivíduo ao modelo burguês vitoriano acompanhado da ética do trabalho apropriada à ideologia do progresso.”  

Especificamente no campo da História, observo que há grupos de estudos, como a da historiadora Dianne Kirby, uma especialista sobre o tema: Religião e Guerra Fria, do Departamento de História, Trinity College Dublin, da Irlanda. Em artigo publicado com o título: “The Roots of the Religious Cold War: Pre-Cold War Factors” (2018)41, ela afirmou que já havia um consenso acadêmico, a partir do início século XXI, da presença de uma dimensão religiosa da Guerra Fria e que esse fenômeno era global multifacetado e multi-religioso. A mesma historiadora organizou o livro “Religious and the Cold War”, o qual foi publicado no ano de 2003 e de diversos outros trabalhos e artigos publicados sobre a temática.

Nesse livro, em sua apresentação, Kirby (2003)42 chegou a fazer questionamentos sobre a falta de atenção dos historiadores sobre a díade: “Religião e Guerra Fria” e da maneira como o tema era tratado, como sendo uma temática de importância secundária ou um subtema. Ela chega a fazer uma lista das possíveis razões ou motivos que poderiam justificar os comportamento ou atitudes dos historiadores, tais como: falta de interesse ou de investimento sobre o assunto, por organismos de pesquisa; os pesquisadores serem de universidades seculares, sem tradição nas pesquisas sobre o tema da religião, dentre outros. Quem também corroborava com essa crítica de Kirby era Maar (2013)43, revisor do livro coordenado por Muehlenbeck, em 2012, ele afirmava que o papel das religiões no resultado da Guerra Fria era compreendido como um subcampo crescente, mas ainda esquecido, na historiografia das relações exteriores americanas.    

Nesse ponto ainda, Kirby (2018)44 compreende que a história da Guerra Fria permanecia fortemente contestada, mesmo com acesso a arquivos, os quais a crítica historiográfica os considera inacessíveis. Contudo a temática da religião havia mostrado resultados interessantes. Como a importância, por exemplo, da influência política da religião, no confronto, durante a Guerra Fria, entre EUA e URSS, aliados e os raios de ação dos dois blocos de poder. Nesse confronto, afirma Kirby (2018)45 que havia um consenso no mundo – porque não dizer no Brasil também, acrescento – em que o primeiro era compreendido como a personificação do “Bem” enquanto o segundo a do “Mal”. Ambos os termos assim tinham contornos religiosos. Tal concepção era atestada, segundo Kirby (2003)46, por John Lewis Gaddis, o qual já havia concluído que a Guerra Fria foi uma competição entre o bem e o mal.

Outra referência que trago para esta reflexão sobre “Religião e Guerra Fria” é o livro coordenado Philip Muehlenbeck e colaboradores (2012)47: “Religion and the Cold War - a Global Perspective”, como o nome da obra sugere. Há diversos trabalhos envolvendo vários temas e países, todos relacionados ao tema da “Religião e Guerra Fria”. Nesse livro, os trabalhos sobre o tema Religião e Guerra Fria apresentavam um formato mais amplo: enquanto Kirby (2003)48 organizou trabalhos relacionados ao universo cristão a partir de uma leitura americana e eurocêntrica, com Muehlenbeck e colaboradores (2012)49, observo trabalhos num universo mais diversificado de religiões e de autores, com atenção não somente para o cristianismo, mas também para o islamismo e o budismo, bem como o ateísmo. Assim, Muehlenbeck e colaboradores (2012)50, defendiam a seguinte tese: a religião teve influência nas políticas da Guerra Fria de países em todo o mundo. (Maar, 2013)51.

Nesse livro, coordenado por Muehlenbeck (2012)52, há um capítulo de autoria de Iain S. Maclean, um outro especialista sobre a temática, que tem o seguinte título: “Brazil: Nation and Churches during the Cold War”. O texto trata a influência estadunidense no Brasil, durante o regime militar. Ressalta os conflitos ocorridos entre católicos durante o período da Guerra Fria: entre os defensores dos ideais religiosos estadunidenses contra os teólogos da libertação. São citados o frei Leonardo Boff e o frei Beto. A disputa girava entorno dos defensores do fundamentalismo religioso estadunidense e dos defensores de uma teologia com influências marxista e socialista.  

No contexto da Guerra Fria, observo que essa disputa de narrativas ia além dos muros da igreja católica e atingia também as igrejas protestantes no Brasil: aqueles que eram a favor da narrativa religiosa conservadora e liberal capitaneada pelos Estados Unidos e contra todo e qualquer ideário comunista ou que se associasse a qualquer luta ou ação social na ótica de uma leitura socialista, marxista ou materialista da religião; ou seja, a favor dos Estados Unidos e contra a União Soviética.

Assim é o que depreendo de Barreto Junior (2002)53, quando informa que nas décadas de 1950 e 1960 alguns setores da Igreja Católica no Brasil — ligados à direção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a grupos de Ação Católica – AC, não-majoritários, assumiram posições de apoio a lutas populares e as injustiças sociais, contudo a Igreja, como instituição, se mantinha atuante e forte opositora ao Comunismo; bem como quando o próprio Barreto Junior (2006, p.62)54 afirma sobre as igrejas evangélicas: “na sua maior parte, até meados do século vinte, os evangélicos brasileiros continuavam a imitar nações consideradas protestantes, tais como Inglaterra e Estados Unidos, como paradigmas a serem seguidos”.

Essa disputa se tornou conflitiva também no campo da representativa internacional das igrejas cristãs protestantes já por volta de 1948. De um lado, com a criação do Conselho Mundial de Igreja (CMI) – de linha ecumênica e mais liberal teologicamente e do outro lado, o Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (CIIC) – de linha conservadora e fundamentalista. (MENDONÇA (2005)55 e QUADROS (2012)56). Na prática, o primeiro Conselho foi acusado de abrigar o comunismo e defender ideias socialistas e marxistas, sendo assim associando ao mundo soviético, enquanto que o segundo de defender os valores conservadores e fundamentalistas do cristianismo anunciados pelos Estados Unidos com seu “estilo de vida americano”, marcado pela defesa do capitalismo liberal e da democracia.    

      Por fim, sobre esse assunto, Watanabe (2005)57 apresenta interessante análise de cenários mundial, local e institucional da Guerra Fria, assim ele afirma:

No cenário político mundial, a Guerra Fria reconfigurou a geopolítica mundial e produziu significativas transformações, nos anos 1950, por exemplo, com o avanço do socialismo em áreas significativas do globo (China em 1949, Coréia do Norte 1951, Cuba 1959), e a bipolarização ideológica e politicamente do mundo entre EUA e URSS provocou, sem dúvida, um compartilhar de alguns imaginários como o da revolução comunista mundial e o perigo da destruição mútua provocada pela fabricação maciça de armas. No cenário político brasileiro, a possibilidade da revolução socialista foi muito presente na sociedade. Da década de 1950 até o golpe militar de 1964, o movimento estudantil era fortemente engajado em questões sociais, a cultura artística era politizada (via teatro de Arena, cinema Glauber Rocha), e politicamente o país, na presidência de João Goulart, conheceu propostas de reformas sociais posteriormente entendidas como socialistas. No cenário religioso institucional, nossa área de maior interesse, houve um grande rearranjo de forças entre 1950 e 1990. Por parte do catolicismo romano, o Concílio do Vaticano II (de 1962-1965) alterou a estratégia evangelizadora na América Latina assim como sua relação frente ao Estado e a sociedade. As outras religiões, nesse período, ganharam visibilidade social e força política. No caso do protestantismo, ocorreu o crescimento das vertentes pentecostais e neopentecostais e também uma alteração da relação do protestantismo histórico, principalmente frente ao Estado e a condução da disputa interna do poder. No cenário teológico mundial de 1950 a 1990, destacamos duas vertentes que não nasceram e nem morreram nesse período: a teologia da libertação e o fundamentalismo protestante (ARMSTRONG, 2001:11). A teologia da libertação, nascida no bojo da proposta do Vaticano II, de maneira geral, agregou alguns valores do marxismo a uma teologia de envolvimento com questões políticas e sociais enquanto o fundamentalismo protestante norte-americano foi seu opositor. Nascido como resposta à teologia liberal européia, o fundamentalismo defendeu, entre outras causas, a literalidade da interpretação bíblica, uma ética pietista e o combate ao comunismo.

 Constato, no contexto da Guerra Fria, que a igreja católica e a grande maioria das igrejas protestantes se posicionaram, a partir dos valores cristãos conservadores e fundamentalistas, a favor do ideário estadunidense e contra tudo que pudesse representar ou estivesse associado ao mundo Soviético, como o Comunismo, socialismo e a esquerda política. A Igreja cristã – representada por parte significativa de católicos e protestantes – por sua vez, compreendia, o que me parece, ser uma ameaça às instituições religiosas e os valores da família, principalmente, contra à liberdade religiosa, assim sendo, contra a fé Cristã. Dessa forma, se aliava politicamente a favor dos Estados Unidos e contra a União Soviética. Nesse sentido e contexto observados acima: a religião tomava contornos teóricos e práticos de importante ação política.      

Nessa perspectiva, sem dúvida, a Guerra Fria atingiu o Brasil. Não somente do ponto de vista da realidade social, política e religioso, mas também no contexto da produção intelectual sobre esse conflito mundial. Assim revelam trabalhos historiográficos nacionais e internacionais. Passo a listar algumas referências e a fazer breves comentários sobre o tema: “Religião e Guerra Fria”, no campo da produção acadêmica e científica.    

Inicialmente, identifiquei um importante dossiê: “Guerra Fria: entre o local e o global” (2017)58, o qual foi publicado, no Brasil, na Revista Diálogos da UEM, pelos pesquisadores Gabriel Passett, da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF) e Sidnei J. Munhoz, na época da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O objetivo desse dossiê, segundo os seus autores, era divulgar as produções de casos específicos em que se articulavam questões locais e globais durante a Guerra Fria. Pude observar uma gama considerável de temas, como: política externa, internacional e suas correlações, cinema, corrida nuclear, polícia política no mundo soviético, colônia portuguesa, participação dos intelectuais sobre o tema, entre Argentina e Chile, política militar entre Estados Unidos e América Latina e o nacionalismo militar de esquerda.  Portanto, nesse dossiê não aparece em primeiro plano trabalhos que contemplassem ou estivessem relacionados diretamente ao tema “Religião e Guerra Fria”, quer no Brasil, na América Latina, ou em outros países.

      Todavia, contribuindo para essa reflexão, identifiquei alguns trabalhos, no campo da História, no Brasil, que abordaram o tema numa perspectiva de relacionar “Religião e Guerra Fria”. Nessa direção, noto que o sentido dado à religião é de um elemento político, em especial, associado ativamente a um dos atores da Guerra Fria, refiro-me aos Estados Unidos. O artigo “Religião e patriotismo: o anticomunismo católico nos Estados Unidos e no Brasil nos anos da Guerra Fria”, de Carla Simone Rodeghero (2002)59, analisa e compara o anticomunismo católico no Brasil e nos Estados Unidos no período da Guerra Fria; A pesquisa “Religiões no Brasil e Relações Internacionais no Século XXI”, de Alberto Pereira dos Santos (2015)60, aborda a religião como elemento de análise nas relações internacionais tendo como cenário antes e depois da Guerra Fria; o texto “Sem lenço, sem documento e com uma Bíblia nas mãos: o movimento estudantil evangélico nos anos sessenta”, de Eduardo Gusmão de Quadros (2012)61, estuda o papel que os movimentos juvenis tiveram, dentro das Universidades, nas transformações do campo protestante no Brasil durante as décadas de 1950 e 1960; o artigo “O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas”, de Antonio Gouvêa Mendonça (2005), discute da origem ao desenvolvimento do campo religioso brasileiro do início do século XXI; o artigo “Caminhos e Histórias: A Historiografia do Protestantismo na Igreja Presbiteriana do Brasil”, de Tiago Hideo Barbosa Watanabe (2005)62, faz uma crítica à historiografia do protestantismo brasileiro (da década de 1950 a 1990) sobre a compreensão dos rumos e sentidos produzidos até então, tendo como referenciais teóricos Michel de Certeau (teoria da ressignificação e recepção das ideias) e Michel Foucault (teoria do poder) e, por fim, “A torre sob vigia: as Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954)”, uma dissertação de mestrado, de Eduardo Góes de Castro (2007)63, que analisa a ação das Testemunhas de Jeová, de religiosidade milenarista norte-americana, em São Paulo, entre os anos de 1930 e 1954. Esta foi, sob alegações diversas e contraditórias, acusada de propagandear o nazismo, o fascismo, o anarquismo e o comunismo, em vista dos anúncios como a não prestação de serviço militar obrigatório, não saudação de símbolos nacionais, não transfusão de sangue e de seu proselitismo anticlerical, feito de porta em porta pelas ruas da cidade. (CASTRO, 2007)64.

      Dentre os trabalhos citados acima, de forma especial, quero apresentar partindo do objeto de pesquisa e do contexto da Guerra Fria alguns achados conceituais e historiográficos que Castro (2007)65 analisa e, posteriormente, relacioná-los ao tema e à perspectiva que tenho desenvolvido neste artigo.

      Castro (2007)66, portanto, na minha compreensão, entende a religião no sentido de uma ação política. Nas palavras do autor: “uma ponta ade lança de um projeto de império”, ao se referir às ações expansionistas dos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria. Ele atesta ao abordar em sua dissertação de mestrado, em História Social, na USP, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados – nome jurídico adotado pelas Testemunhas de Jeová no Brasil. Uma igreja de influências cristãs advinda dos Estados Unidos. Suas publicações foram confiscadas, membros presos e seu registro de atividades proscrito no país entre 1940 e 1947.

      Castro (2007)67, cita um artigo de autoria de Walter Lippmann68, o qual é considerado pelo autor como um dos teóricos do “expansionismo norte-americano do século XX”. Esse artigo encontra-se na revista Reader´s Digest.69 O autor compreendia que recuperaria o sentido de missão e a ideia de “povo eleito” (os Estados Unidos), demonstrando a persistência destes ícones no imaginário norte-americano, tão caros a seu projeto expansionista, ainda mais em tempos de guerra: outrossim afirma Walter Lippmann, conforme Castro (2007, p. 137)70: “A América é enfim chamada a fazer aquilo que os fundadores e pioneiros sempre acreditavam ser a grande tarefa do Novo Mundo: fazer deste lugar onde a antiga fé pudesse reverdecer e florir, e a sua eterna promessa enfim ser redimida”.

Nessa direção, Castro (2007, p.142)71 conclui a influência política da religião na formação e constituição do comportamento do povo americano e seus desdobramentos no pós-guerra:

A liberdade política, responsável pelo estabelecimento de uma democracia na América, tinha assim na religião um de seus pilares, uma vez que era este o elemento decisivo na construção de costumes e de uma moral que orientavam o comportamento do povo norte-americano na criação de uma república democrática. Valores como estes foram emanados pelas mais variadas esferas da cultura daquele país, especialmente a partir do início da Segunda Guerra Mundial, e no decorrer do conflito. Não obstante, será no período pós-guerra, durante a reorganização da geopolítica mundial, que serão colhidos os frutos desta empreitada.

Frente a esse imaginário benéfico e benevolente culturalmente dos valores religiosos e civis americanos fundamentados e construídos a partir do Destino Manifesto, por exemplo, o Comunismo soviético era apresentado como perigo iminente. Uma grande ameaça. Não somente à vida religiosa cristã e seus valores, mas também aos fundamentos do modo de vida americano (american way of life) (SCHRECKER, 1999)72. Rodeghero (2002, p.470)73, referente ao perigo iminente da “ameaça vermelha”, afirma:


Mesmo durante a Segunda Guerra, quando a União Soviética era aliada dos Estados Unidos, muitos norte-americanos — católicos patriotas, protestantes fundamentalistas, socialistas democráticos, e muitos sindicalistas — permaneceram firmes em sua hostilidade tanto ao comunismo doméstico quanto ao internacional.  Posteriormente, a Guerra Fria aproximou mais o governo federal deste tipo de demanda do eleitorado. Com o aprofundamento da Guerra Fria e com a administração de Truman legitimando a campanha doméstica contra a esquerda, muitos estados norte-americanos passaram a aprovar leis de lealdade, bem como leis de controle dos comunistas.

 Nessa perspectiva, durante o período da Guerra Fria, não somente os americanos corriam perigo do Comunismo, mas todo o mundo. Portanto, os valores universais, fundamentais e necessários para a ordem mundial também corriam perigo de serem eliminados, caso houvesse o crescimento e desenvolvimento do Comunismo. Segundo Barreto Junior (2010, p. 288)74 “na sua maior parte, até meados do século vinte, os evangélicos brasileiros continuavam a imitar nações consideradas protestantes, tais como Inglaterra e Estados Unidos, como paradigmas a serem seguidos”.

O grande inimigo de Deus e do desenvolvimento civilizatório da humanidade – o Comunismo – o qual é personificado e identificado com o Diabo. É apresentado nas pregações, discursos e narrativas, especialmente, pelos pastores e missionários, bem como nas publicações de literaturas americanas amplamente divulgadas nos países influenciados, ou em disputa entre os EUA e a URSS, durante a Guerra Fria. Essas literaturas, por exemplo, eram financiadas, produzidas e distribuídas pelas autoridades ou agências religiosas americanas no Brasil, na América Latina e em outras partes do mundo com mensagens milenaristas e apocalípticas estadunidenses, conforme Castro (2007: p.8)75:

     

Paul Boyer, em seu livro When time shall be no more analisa o universo milenarista e apocalíptico norte-americano e considera que, em vista da ameaça comunista e do tenso cenário do conflito bélico internacional proporcionado pela Segunda Guerra Mundial, a recorrência dos mais crentes às denominações que previam os anos 40 como o início do Juízo Final, aumentou, havendo intenso crescimento de “seitas” ou “igrejas” como as Testemunhas de Jeová, cujas publicações reiteravam a todo momento ícones como as “bestas do Apocalipse”, a “chegada do fim dos tempos”, o “segundo advento de Cristo” e o “Armagedon”.

 Nessa lógica, ratifica Mendonça (2005, p.65)76 ao informar e analisar:

O cenário internacional desse período, que tinha por principal personagem a Guerra Fria, ajudava o bloco capitalista conservador a manter aceso nas igrejas o sentimento antiecumênico e anticomunista, que ganhava, sob o verniz de verdades religiosas, foros de “guerra de dois mundos”, particularmente com o “Armagedon” escatologista no governo Reagan...Talvez a maior expressão da direita política e religiosa tenha sido o IRD (Institute on Religion and Democracy), fundado em 1981 por Michael Novak e outros, a fim de resistir à linha progressista de organizações cristãs como o National Council of Churches e sua ala ecumênica favorável ao Conselho Mundial de Igrejas. Um dos seus membros fundadores, o pastor luterano Richard J. Neuhaus, afirmou que o IRD tinha uma agenda política específica que era a América Central e o combate à Teologia da Libertação. No governo Reagan o IRD operava muito próximo do Departamento de Estado, em Washington.

O próprio Castro (2007, p.155)77 afirma e conclui:

 

Se entendermos a religião segundo Bordieu em A Economia das Trocas Simbólicas, perceberemos que a reordenação do mundo que a religião provoca anula as “funções socialmente diferenciadas de diferenciação social” e de legitimação das diferenças, ou classes. seja, ela recobre as divisões sociais em grupos ou sendo assim, percebe- se um imbricamento do discurso religioso com o político e o papel a que ele se presta, especialmente no momento em que ele se torna “ponta de lança” de um projeto de império, como o norte-americano. Passa a ser portador de uma legitimidade da prática democrática estadunidense enquanto modelo exemplar.

     Percebo, tanto nas informações e análises feitas por Mendonça (2005)78 quanto na pesquisa realizada por Castro (2007)79, a influência política da religião. O primeiro, sobre os confrontos teológicos entre o Conselho Mundial de Igrejas – CMI e o Instituto de Religião e Democracia – IRD, salvaguardado pelo Conselho Internacional de Igrejas Cristãs – expressão maior do fundamentalismo protestante americano; e o segundo, em sua dissertação, quando o mesmo trata da influência das autoridades e agências americanas, inclusive da própria Igreja Testemunha de Jeová. Este ainda, aponta e relaciona, de forma capital, a religião como um dos principais elementos constitutivos das políticas expansionistas americanas, no campo religioso, durante os primeiros anos de Guerra Fria no Brasil.

 

CONCLUSÃO

Após exposição reflexiva feita, no campo e nos estudos historiográficos publicados e utilizados, neste artigo, posso afirmar que a Religião é elemento importante de análise cultural e de representação social e política para constituição e entendimento sobre a Guerra Fria; enfim, a Religião como fenômeno histórico e objeto de estudo da historiografia do Tempo Presente. Dessa maneira, identifico os seguintes achados, assim sistematizados:

  1. A Guerra Fria foi e ainda continua sendo um tema instigante, cheio de complexidade e rico de compreensões e interpretações do imaginário social, político e religioso referente a um dos grandes conflitos mundiais para o campo da história e, de maneira especial, para a historiografia na área da História do Tempo Presente – HTP. Afinal, no presente, ainda, persiste no imaginário social, em especial, no campo religioso cristão, o conflito ideológico em que Deus está para os Estados Unidos – o Bem – enquanto o Diabo está para a URSS – o Mal – bem como o discurso religioso contra o comunismo como inimigo e ameaça constante às igrejas e aos cristãos, de forma geral.
  2. A riqueza histórica tem possibilitado, uma produção historiográfica consistente sobre os seguintes temas: política internacional, diplomacia, estratégias de guerra e guerra nuclear, economia, capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, anticomunismo, imperialismo, ideologia, liderança política, projetos de modernização, aliados e blocos de poder, geopolítica, dentre outros.
  3. Observo que esses temas – quando revisitados – têm possibilitado compreensões e interpretações renovadas sobre os estudos da Guerra Fria. Noto também que há lacunas sobre a sua história e o debate historiográfico, mesmo considerando o acesso a novos arquivos que ainda são considerados inacessíveis pela crítica historiográfica.
  4. A Religião tem se constituído, paulatinamente, ao longo do tempo, como um tema importante que tem saído da periferia das discussões sobre Guerra Fria para o centro dos debates ressaltando a religião como elemento político presente nos países da Guerra Fria.
  5. Assim, o presente artigo sinaliza o entendimento da religião não como mero instrumento passivo ou de cunho ideológico, ou ainda capítulo secundário ou subtema; mas como elemento importante de análise (cultural) de representação social e política para constituição e compreensão da Guerra Fria; enfim, como fenômeno histórico e objeto de estudo importantes para a historiografia na área da HTP.
  6. Por fim, no Brasil, ainda, se faz necessário mais pesquisas que possam tratar objetivamente sobre o tema: “Religião e Guerra Fria”, na perspectiva das reflexões deste artigo. Pois as pesquisas podem contribuir para conhecimentos especializados, na área da ciência história, sobre conflitos entre povos e países de significativa magnitude, que perpassam e se ramificam, ao longo do tempo, na história e no imaginário social da humanidade; como se tem observado acontecer com a Guerra Fria: quanto mais ela é estudada e pesquisada.

 

NOTAS


 1.       Doutor em História Política pela Universidade Estadual de Maringá-UEM e Mestre em Ciências da Religião pela UMESP . 

2.       No sentido, da compreensão da presença da subjetividade na produção e no oficio do historiador, a partir das compreensões de Dosse (2012) e de Delacroix (2018), que toda produção historiográfica, em especial, no campo da pesquisa relacionado à HTP é marcada de forma indelével e simultânea pela subjetividade humana e pelo ambiente cultural e social do tempo presente.

3.       BLOCH, M. Apologia da História ou o Oficio de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

4.       No momento em que escreve este artigo, no mundo: casos confirmados 209 892 439 e número de mortes 4 400 908; no Brasil: número de casos confirmados 20 378 570 e diários 28 688; número de mortes diária 847 e total de mortos 569 492. Fonte: Gazeta do Povo - https://especiais.gazetadopovo.com.br/coronavirus/casos-no-mundo/. No Brasil, o Governo Federal não divulga dados oficiais pelo Ministério da Saúde, desde o momento que iniciou a pandemia. Atualmente tem havido denúncias de ocultação de dados. Os órgãos de impressão se uniram e fizeram um consórcio para apuração e divulgação sobre a pandemia da COVID-19.  

5.       Da cronologia dos principais eventos da Guerra Fria listada por Munhoz (2020), entre os anos 1945 a 1991, ele destaca entre e respectivamente os eventos em 4 a 11 de fevereiro – conferência de Ialta decide os termos da rendição alemã, o ataque soviético ao Japão e o futuro da Europa Oriental a 26 de dezembro com a dissolução da URSS.

6.       Uma rica contribuição para a história e a historiografia sobre a Guerra Fria é o livro de Sidnei Munhoz (2020) “Guerra Fria: História e Historiografia”, editora Appris. Nesta obra o autor faz excelente trabalho de discussão sobre os principais temas pertinentes ao evento.          

8.       Delacroix (2018) a partir das discussões apresentadas por Rousso (2016) assinala as periodizações históricas possíveis de 1789, 1917, 1945, 1940, 1914, 1989 e 2001 e suas possíveis continuidades e descontinuidades associadas aos limites e fronteiras dos estudos do campo de pesquisa da HTP.

9.       WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

11.    Por exemplo, é isso que depreendo do posicionamento da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil – IPIB, uma das igrejas históricas do protestantismo brasileiro, por meio do seu órgão oficial, o jornal “O Estandarte”, em 1964. Foi a favor da intervenção e deposição de João Goulart, pois viu em Jango intentos golpistas devido à forte influência dos comunistas que faziam parte do seu governo, bem como compreendia que o comunismo era inimigo do Evangelho, assim afirmava o editor que o comunismo “é uma doutrina perniciosa que visa desviar os homens para caminhos que não conduzem a nada” (O ESTANDARTE, p. 3, 15 e 30/04/1964).

14.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

16.    LEFFLER M. P. “The emergence of an American grand strategy, 1945–1952” In: LEFFLER, Melvyn; WESTAD, Odd Arne (ed). The Cambridge History of the Cold War. New York: Cambridge University Press, 2010. 3v.

17.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

18.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

19.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

20.    KENNAN, George Frost. American Diplomacy. Expanded edition. Chicago: University of Chicago, 1985.

21.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

22.    MUNHOZ, Sidnei J. ; ROLLO, José Henrique. Détente e détentes na época da Guerra Fria (décadas de 1960 e 1970). Esboços - Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 138-158, out. 2015. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2014v21n32p138.   (acesso 07 maio. 2018.)

23.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

24.    MUNHOZ, Sidnei J. ; ROLLO, José Henrique. Détente e détentes na época da Guerra Fria (décadas de 1960 e 1970). Esboços - Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 138-158, out. 2015. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/2175-7976.2014v21n32p138.   (acesso 07 maio. 2018.)

25.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

26.    MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: História e Historiografia. Curitiba, Appris, 2020.

27.    WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 13: “Different from the nationalist projects in Europe and East Asia that had led to war in 1914 and 1937–39, the ideas put forward by the American and Soviet contenders in the Cold War were universal in nature – they were supposed to be valid for all peoples at all times now and forever. By 1945, these ideas – individual liberty, anticollectivism, and market values on the US side; social justice, collectivism, and state planning among the Soviets – had hardened into ideologies, in which universalist political ideals mixed freely with older and more specific cultural traits. The elites of both countries believed that the future was theirs, because the world was unavoidably moving in the direction of the aims they themselves had set.”

28.    WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

29.    WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

30.    Kirby (2018) defende que o anticomunismo cristão absolutista afirmava que o comunismo era ímpio e, portanto, mau. E essa concepção ajudou a justificar a mudança da União Soviética de aliada em tempo de guerra para inimiga no pós-guerra. Também foi fundamental para a descrição da propaganda ocidental do regime soviético como inerentemente hostil aos valores da civilização ocidental e do Cristianismo, o qual estaria empenhado – URSS – na destruição desses valores e eventual dominação do mundo.

31.    WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p.16: “While advancing modernity would, over time, do away with these relics of the past, the Soviet and American role was to identify and support those local elites that would help abolish local concepts of nation and religion the fastest. Ironically, since toward the end of the Cold War the Soviet Union was increasingly fueled by Russian particularism and the United States by American evangelicalism, their support for the steamroller of modernization in the Third World (capitalist or socialist) never faltered as the number of its enemies increased. In countries such as Ethiopia or Iran, the superpower interventions supported wars against the identities and beliefs of the great majority of the local population.”

32.    Refiro-me, como exemplo dentre outros, a política internacional dos direitos humanos implantada e defendida por Jimmy Carter (1977–1981) durante o seu governo, ao qual foi compreendida pela União Soviética como uma tentativa de intervenção em sua política interna (MUNHOZ, 2020). No ano de 2002, ex-presidente viria a ganhar o Prêmio Nobel da Paz como exemplo de determinação pela construção da paz e defesa dos direitos humanos, conforme material UOL in: https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/ex-presidente-dos-eua-jimmy-carter-ganha-nobel-da-paz.

33.    WESTAD, Odd Arne. The Global Cold War. Third World interventions and the making of our times. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

34.    Sobre o evangelicalismo americano, seu impacto no protestantismo nos Estados Unidos e seu desenvolvimento para o mundo e o Brasil, ver Mendonça, A. G em seu artigo: “Protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas” na REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005.

35.    MENDONÇA, A. G. O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas. Revista USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005. Disponível: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13455

36.    O Brasil, no final do século XIX e início do século XX, foi celeiro das igrejas de missão americanas com a chegada, por exemplo, aqui do Presbiterianismo através do missionário Ashbel Green Simonton (1833-1867) e dela para cá, ao longo dos anos, foram constituídos diversos e fortes vínculos com a terra do Tio Sam. Ver Mendonça, A. G em seu artigo: “Protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas” na REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005.

37.    SOUSA JUNIOR, W. Aspectos Doutrinários Fundamentalistas da Expansão Política, Econômica e Cultural dos Estados Unidos. REVISTA LUMEN ISSN: 2447-8717 Nº 2 SÃO PAULO NOVEMBRO/2016. Disponível:  http://www.periodicos.unifai.edu.br/index.php/lumen/article/view/31

38.    Sobre o Calvinismo ver Mendonça, A. G em seu artigo: “Protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas” na REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005.

39.    Sobre o Destino manifesto, este mais especificamente no sentido religioso, ver Mendonça, A. G em seu artigo: “Protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas” na REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005.

40.    RODEGHERO, C. S. Religião e patriotismo: o anticomunismo católico nos Estados Unidos e no Brasil nos anos da Guerra Fria. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, pp. 463-488 2002. Disponível: https://www.scielo.br/j/rbh/a/tM4btpprcSKfZTJQDTwj99t/?lang=pt

41.    SOUSA JUNIOR, W. Aspectos Doutrinários Fundamentalistas da Expansão Política, Econômica e Cultural dos Estados Unidos. REVISTA LUMEN ISSN: 2447-8717 Nº 2 SÃO PAULO NOVEMBRO/2016. Disponível:  http://www.periodicos.unifai.edu.br/index.php/lumen/article/view/31

42.    MENDONÇA, A. G. O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas. Revista USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005. Disponível: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13455

44.    KIRBY, D. Religion and the Cold War. Série: Cold War History, Palgrave Macmillan UK, 2003.

46.    KIRBY, D. "The Roots of the Religious Cold War: Pre-Cold War Factors," Social Sciences, MDPI, Open Access Journal, vol. 7(4), pages 1-17, April. 2018.

47.    KIRBY, D. "The Roots of the Religious Cold War: Pre-Cold War Factors," Social Sciences, MDPI, Open Access Journal, vol. 7(4), pages 1-17, April. 2018.

48.    KIRBY, D. Religion and the Cold War. Série: Cold War History, Palgrave Macmillan UK, 2003.

49.    MUEHLENBECK. P.E. Religion and the Cold War: A Global Perspective. Published by: Vanderbilt University Press, 2012.

50.    KIRBY, D. Religion and the Cold War. Série: Cold War History, Palgrave Macmillan UK, 2003.

51.    MUEHLENBECK. P.E. Religion and the Cold War: A Global Perspective. Published by: Vanderbilt University Press, 2012.

53.    MAAR, H. Reviewed  - Philip Muehlenbeck. Religion and the Cold War: A Global Perspective. Published on H-Soz-u-Kult, February, 2013.

54.    MUEHLENBECK. P.E. Religion and the Cold War: A Global Perspective. Published by: Vanderbilt University Press, 2012.

55.    BARRETO JUNIOR, R. C. O Movimento Ecumênico e o Surgimento da Responsabilidade Social no Protestantismo Brasileiro. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 13, n. 1 e 2, p. 273-323. Disponível: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/21824

59.    WATANABE, T. H. B. Caminhos e Histórias: A Historiografia do Protestantismo na Igreja Presbiteriana do Brasil. Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2005 / pp. 15-30. Disponível: https://www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_watanabe.pdf

60.    PASSETTI, G.; MUNHOZ, S. J. Guerra Fria: entre o local e o global. Diálogos, v. 22, n. 1, p. 1 - 4, 7 jul. 2018. Disponível: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/43619/751375137920

61.    RODEGHERO, C. S. Religião e patriotismo: o anticomunismo católico nos Estados Unidos e no Brasil nos anos da Guerra Fria. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, pp. 463-488 2002. Disponível: https://www.scielo.br/j/rbh/a/tM4btpprcSKfZTJQDTwj99t/?lang=pt

62.    SANTOS, A. P.  Religiões no Brasil e Relações Internacionais no Século XXI. Geo UERJ, Rio de Janeiro, n. 26, 2015, p. 169-190 | doi: 10.12957/geouerj.2015.3323. Disponível: https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/3323

63.    QUADROS, E. G. Sem lenço, sem documento e com uma Bíblia nas mãos: o movimento estudantil evangélico nos anos sessenta. Horizonte, Belo Horizonte, v. 10, n. 26, p. 385-398, abr./jun. 2012 - ISSN: 2175-5841. Disponível: http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2012v10n26p385

64.    WATANABE, T. H. B. Caminhos e Histórias: A Historiografia do Protestantismo na Igreja Presbiteriana do Brasil. Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2005 / pp. 15-30. Disponível: https://www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_watanabe.pdf

65.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

66.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

67.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

68.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

69.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

70.    Walter Lipmann foi um escritor, jornalista e comentarista político estadunidense. Foi ainda considerado o responsável pela universalização do termo Guerra Fria (MUNHOZ, 2020).

71.    Sobre a revista americana Seleções Reader´s Digest, ver, por exemplo, JUNQUEIRA (2000) quando escreve artigo sobre: “O Imaginário da Conquista do Oeste e as Representações sobre a América Latina na             revista Seleções do Reader’s Digest”, publicada em VARIA HISTÓRIA, Belo Horizonte, nº 23, Jul/00, p.97-08.

72.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php

73.    CASTRO, E. G. A TORRE SOB VIGIA – As Testemunhas de Jeová em São Paulo (1930-1954) Dissertação em História Social, São Paulo: USP, 2007. Disponível: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-02012008-102727/pt-br.php , p. 142.

74.    SCHRECKER, Ellen. McCARTHYISM'S GHOSTS: Anticommunism and American Labor, 1999. Disponível: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/4125243/mod_resource/content/1/10.2307%4040342219.pdf

76.    BARRETO JUNIOR, R. C. O Movimento Ecumênico e o Surgimento da Responsabilidade Social no Protestantismo Brasileiro. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 13, n. 1 e 2, p. 273-323. Disponível: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/21824, p. 288.

78.    MENDONÇA, A. G. O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas. Revista USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005. Disponível: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13455 p. 65.

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