A percepção do policial penal do Estado do Paraná sobre a organização e as condições de trabalho e suas repercussões em sua qualidade de vida.

Dr. Rubem A. Mariano
Psicólogo - CRP 08/14994
Whatsapp - 44 998527943 

"Por trás da vitrine, há o sofrimento dos que trabalham. Aqueles que, pretensamente, não mais existem, embora na verdade sejam uma legião, assumindo inúmeras tarefas arriscadas para sua saúde." (Christophe Dejours, 1987)

Nos anos 1960, a abordagem em relação à saúde física, mental e emocional dos trabalhadores era substancialmente diferente da atual. Naquela época, a ênfase estava na saúde física como o principal indicador de bem-estar, concentrando-se em condições que afetavam diretamente o corpo, como lesões ocupacionais e doenças causadas pela exposição a agentes nocivos. A medicina do trabalho focava principalmente na prevenção de acidentes e na promoção de ergonomia básica, enquanto a saúde mental e emocional era frequentemente negligenciada. Transtornos como depressão, ansiedade e estresse relacionados ao trabalho não eram reconhecidos nem diagnosticados com a frequência observada hoje. Além disso, o estigma em torno da saúde mental desencorajava os trabalhadores a buscar ajuda ou discutir abertamente suas dificuldades emocionais.

Essa realidade também se refletia entre os trabalhadores da segurança. Entretanto, entre 2015 e 2016, sob a liderança do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado do Paraná (SINDARSPEN), foi realizada uma pesquisa pioneira coordenada pelo autor deste artigo, a qual examinou a saúde mental e emocional dos policiais penais, abordando a organização, as condições de trabalho e a qualidade de vida desses profissionais.

Os objetivos da pesquisa incluíram: 1) coletar a percepção dos policiais penais sobre seu desempenho e condições de trabalho; 2) identificar riscos à saúde enfrentados por esses profissionais; e 3) avaliar a qualidade de vida no ambiente laboral, visando fornecer insights sobre suas condições de trabalho e guiar ações para melhorar sua saúde mental.

Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) um questionário baseado no modelo de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) de Walton, adaptado ao contexto penitenciário; 2) o Inventário de Trabalho e Risco de Adoecimento (ITRA); 3) a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENTO); e 4) entrevistas e observações com base no Roteiro Anamnésico do Exame Psicológico.

O estudo abrangeu nove regiões e todas as 35 unidades prisionais do estado. Iniciada em outubro de 2015, a pesquisa foi gerida pelo Escritório Regional de Maringá do SINDARSPEN, que forneceu o suporte logístico necessário.

Um dos dirigentes sindicais da época destacou a importância de uma nova pesquisa para avaliar a situação da saúde mental, emocional e física dos policiais penais do Estado do Paraná. Os principais resultados da investigação realizada entre 2015 e 2016 foram publicados na revista "Operários do Cárcere", que expôs as condições de trabalho dos policiais penais e possibilitou denúncias ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Isso resultou em um Laudo Técnico de Condições do Ambiente de Trabalho (LTCAT) e outras ações pertinentes. Como consequência, foi instituído o Programa de Atenção Psicossocial (PRUMOS) pelo Governo do Estado do Paraná, destinado ao acompanhamento psicológico de policiais militares, civis, bombeiros militares, servidores efetivos e contratados do Departamento Penitenciário, além de peritos oficiais, ativos e inativos, e seus familiares. O PRUMOS é gerido pela Assessoria de Planejamento Estratégico e Gestão de Projetos da Secretaria da Segurança Pública do Paraná.

Este artigo aborda os seguintes tópicos: Introdução; Desenvolvimento: 1. Metodologia Aplicada; 2. Relatos de policiais penais, vítimas de rebeliões; 3. Análise dos resultados da pesquisa; Considerações finais e Referências.

 

DESENVOLVIMENTO

 

1. Metodologia Aplicada

1.1 Conceito e Características das Pesquisas

O questionário destinado à avaliação da qualidade de vida no trabalho compreende: 

a) Caracterização do entrevistado. 

b) PRIMEIRA PARTE: aborda oito fatores do modelo de QVT de Walton, adaptados para a realidade dos policiais penais, incluindo satisfação e insatisfação no trabalho. 

c) SEGUNDA PARTE: inclui escalas do Inventário sobre o Trabalho e o Risco de Adoecimento (ITRA) para diagnóstico dos riscos à saúde do trabalhador. 

d) TERCEIRA PARTE: trata das condições atuais de saúde do trabalhador, abordando problemas de saúde, uso de medicamentos, licenças de trabalho e outros aspectos relevantes.

1.1.2 Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) 

A Escala EVENT mensura a vulnerabilidade decorrente das circunstâncias cotidianas do trabalho. Validada no Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), é relevante para o estresse ocupacional, especialmente para profissionais que não exigem ensino médio completo, mas podem ter nível superior incompleto. A Escala avalia três fatores: Clima e Funcionamento Organizacional, Pressão no Trabalho e Infraestrutura e Rotina.

1.2 Cálculo Amostral das Pesquisas

1.2.1 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) 

Para esta pesquisa, foi adotado um erro amostral de 5% e um nível de confiança de 95%, considerando uma população de 3.542 policiais penais do Estado do Paraná. Aproximadamente 70% desses agentes trabalham diretamente com presos, totalizando 2.480. Para uma amostra válida, eram necessárias no mínimo 296 respostas. A pesquisa obteve 831 respostas, superando amplamente os critérios de validade.

1.2.2 Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) 

Na pesquisa com a Escala EVENT, o erro amostral foi de 6%, mantendo o nível de confiança de 90% e considerando a mesma população. O mínimo requerido para a amostra era de 211 respostas, e a pesquisa alcançou 249, qualificando-se como estatisticamente válida.

1.2.3 Comparação dos Resultados e Justificativa da Diferença 

As duas pesquisas, sobre a Qualidade de Vida no Trabalho e a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse, utilizaram abordagens distintas em relação ao erro amostral e ao nível de confiança, impactando os resultados. A pesquisa sobre Qualidade de Vida adotou um erro amostral de 5% e um nível de confiança de 95%, resultando em 831 respostas, o que aumentou a confiabilidade dos dados. Já na pesquisa com a Escala EVENT, um erro amostral de 6% e um nível de confiança de 90% implicam que as conclusões podem ser interpretadas com maior incerteza. Essas diferenças ressaltam a importância da escolha do erro amostral e do nível de confiança no planejamento de pesquisas.

1.3 Critérios de Correção das Pesquisas

1.3.1 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) 

a) Caracterização do entrevistado: soma dos pontos brutos e conversão em percentis. 

b) PRIMEIRA PARTE: soma dos pontos brutos e conversão em percentis. 

c) SEGUNDA PARTE: avaliação positiva, moderada ou negativa conforme as pontuações. 

d) TERCEIRA PARTE: soma dos pontos brutos e conversão em percentis.

1.3.2 Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) 

Pontuação atribuída: zero pontos para "nunca", um ponto para "às vezes" e dois pontos para "frequentemente". O somatório da pontuação em cada fator é convertido em percentis, com classificação baseada nos pontos obtidos.

2. Relatos de policiais penais vítimas de rebeliões

No início de 2015, uma pesquisa foi realizada para compreender a percepção dos policiais penais do Estado do Paraná sobre organização, condições e qualidade de vida no trabalho. As entrevistas foram conduzidas em três unidades prisionais: Maringá, Cruzeiro do Oeste e Guarapuava.

Os relatos revelaram um panorama preocupante. Os policiais viviam sob constante tensão devido às condições de trabalho, especialmente durante o contato com os detentos e nos dias de visita. A sensação de estar "sempre com a cabeça no trabalho" reflete o impacto psicológico dessa rotina. Além disso, o índice de alcoolismo entre os policiais é alarmante, mesmo com um alto nível de escolaridade, como exemplificado pelo caso de um agente que desenvolveu dependência alcoólica.

Observou-se uma diminuição significativa na motivação e satisfação no trabalho entre os policiais com mais de 20 anos de serviço, indicando possíveis sinais de burnout. Sintomas como estresse, insônia, ansiedade e redução da libido foram frequentemente identificados, evidenciando a necessidade urgente de intervenções para melhorar as condições de trabalho e a saúde mental desses profissionais.

Em Maringá, os policiais expressaram sentimentos de abandono pelo Estado, principalmente após arcarem com tratamentos psiquiátricos particulares decorrentes da rebelião de 2011. Sintomas de estresse pós-traumático, como revivência do evento, insônia e angústia, evidenciam o profundo impacto dessa experiência.

Em Cruzeiro do Oeste, os relatos incluíram conflitos éticos e denúncias de assédio moral, como ameaças e perseguições, indicando um ambiente de trabalho tóxico. Em Guarapuava, as vítimas da rebelião de outubro de 2014 relataram estresse pós-traumático, transtornos obsessivos-compulsivos e síndrome de burnout, com manifestações de sofrimento psíquico não expresso. A ausência de acompanhamento adequado, apesar do suporte parcial da família e da igreja, reforça a necessidade de um suporte mais estruturado e contínuo.

Os policiais de Maringá afetados pela rebelião de dezembro de 2014 descreveram a perda de orgulho e um impacto psicológico duradouro, manifestado em sintomas como pesadelos, diarreia e agorafobia. A pressão para retornar ao trabalho sem a devida preparação emocional acentua a percepção de negligência por parte do Estado.

Essas experiências ressaltam a importância da implementação de políticas e programas voltados para a promoção da saúde mental e a melhoria das condições de trabalho dos policiais penais, além da necessidade de apoio institucional em períodos de crise.

 

3. Análise dos resultados da pesquisa

A análise dos resultados da pesquisa sobre Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), Indicadores de Prazer-Sofrimento no Trabalho (EIPST), Avaliação dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT), Relatório de Resultados da Pesquisa de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) e as Condições de Saúde do Trabalhador revela o perfil dos policiais penais entrevistados.

3.1 Caracterização do(a) entrevistado(a)

O perfil dos entrevistados apresenta características reveladoras sobre a composição desse grupo profissional. Predomina o gênero masculino, com 90,6% dos entrevistados. A presença feminina representa 9,4% do total. A faixa etária dos participantes mostra uma força de trabalho madura, com a maioria concentrada entre 31 e 50 anos. A baixa representatividade de jovens e a quase inexistência de agentes acima de 61 anos sugerem que a carreira não se estende por longos períodos, possivelmente devido às condições desafiadoras do trabalho.

A maioria dos policiais penais é casada (72,1%), indicando uma busca por estabilidade diante das adversidades da profissão. A presença de filhos é significativa, impactando diretamente nas preocupações e no bem-estar dos profissionais. A maioria possui até 10 anos de experiência, sugerindo uma renovação no quadro de funcionários. A escolaridade é um ponto de destaque, com um percentual expressivo possuindo educação superior, refletindo tanto uma exigência crescente quanto um investimento pessoal em qualificação profissional. A presença de agentes com pós-graduação também é notável, indicando uma busca contínua por especialização.

Esse perfil aponta para um grupo que demanda políticas de saúde e bem-estar específicas, considerando suas condições de trabalho e responsabilidades familiares. A qualificação educacional elevada sinaliza a importância de desenvolver estratégias que aproveitem e valorizem o capital intelectual disponível.

3.2 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)

A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é avaliada com base nas necessidades e expectativas humanas, focando na humanização e responsabilidade social. A percepção dos policiais penais revela um panorama complexo. No aspecto financeiro, há um equilíbrio frágil entre satisfação e insatisfação com o salário, evidenciando que a remuneração, embora não seja o único fator motivacional, é um ponto sensível.

As condições de trabalho mostram insatisfação clara, principalmente em relação à salubridade e equipamentos de segurança, elementos essenciais para a saúde e bem-estar dos profissionais. Isso pode afetar a motivação e a satisfação pessoal no trabalho.

Quanto ao uso das capacidades, os dados apontam descontentamento, indicando uma lacuna entre as habilidades dos policiais penais e as oportunidades para aplicá-las efetivamente. Isso sinaliza a necessidade de políticas que valorizem a competência e promovam um ambiente laboral que estimule o potencial individual.

As oportunidades de crescimento profissional e treinamentos são criticamente insatisfatórias. A falta de perspectivas de desenvolvimento pode levar ao desânimo e à estagnação profissional. Em contraste, a integração social no trabalho é um ponto positivo, com a maioria dos policiais penais satisfeitos com a inclusão social e o acolhimento de ideias.

No entanto, a insatisfação retorna em relação ao respeito aos direitos trabalhistas e à liberdade de expressão, aspectos essenciais para um ambiente justo e democrático. A percepção de que esses direitos não são plenamente assegurados pode gerar um clima de insegurança.

Em relação ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a insatisfação é evidente, indicando que os policiais penais percebem um desequilíbrio que afeta seu lazer e qualidade de vida fora a do trabalho. Um relevância social do trabalho e as políticas de Recursos Humanos do Estado geram insatisfação significativa, o que pode afetar o sentimento de pertencimento e orgulho associado à profissão.

Em suma, a análise da percepção dos policiais penais em relação à QVT destaca a necessidade de uma abordagem integrada para melhorar as condições de trabalho e a satisfação profissional, considerando tanto aspectos tangíveis quanto subjetivos.

3.3 Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST)

A análise da percepção dos policiais penais sobre o prazer e sofrimento em suas atividades laborais revela um quadro complexo, marcado por sentimentos contraditórios e uma tendência geral de insatisfação. Essa percepção se divide em quatro esferas interligadas: realização profissional, liberdade, sofrimento e falta de reconhecimento.

**Realização Profissional:** Os dados evidenciam uma predominância de sentimentos negativos. As avaliações dos indicadores "orgulho pelo que faço" e "identificação com minhas tarefas" variam de moderadas a críticas, sugerindo um descompasso entre as expectativas e a prática cotidiana. Esse desalinhamento é evidente em indicadores como "satisfação", "motivação" e "bem-estar", refletindo desvalorização e insatisfação.

**Liberdade:** A percepção nesta esfera é menos negativa, mas ainda revela preocupações substanciais. As avaliações oscilam entre moderadas e críticas em indicadores que mensuram a liberdade para negociar com a chefia e expressar opiniões. Não no entanto, nota-se uma leve positividade no indicador "solidariedade com os colegas".

**Sofrimento:** A percepção é unânime entre os policiais: o trabalho causa sofrimento significativo, com avaliações negativas a graves em indicadores como "esgotamento emocional", "estresse" e "medo". Esse quadro de sofrimento pode impactar diretamente a saúde mental e física dos profissionais.

**Falta de Reconhecimento:** A visão nessa esfera é predominantemente negativa, com avaliações críticas em indicadores como "inutilidade" e "desqualificação". A percepção de falta de reconhecimento pelo esforço e desempenho indica uma lacuna significativa entre as expectativas e a valorização das contribuições dos policiais.

Em suma, a percepção dos policiais penais sobre prazer e sofrimento em suas atividades é majoritariamente negativa, destacando a falta de realização profissional, limitações à liberdade, sofrimento psicológico e falta de reconhecimento. Essas constatações apontam para a urgência de intervenções voltadas à melhoria das condições de trabalho e promoção de um ambiente mais justo.

3.4 Avaliação dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT)

Esta seção explora a percepção dos policiais penais sobre os danos decorrentes de suas funções, abordando danos físicos, psicológicos e sociais.

**Danos Físicos:** A avaliação revela percepções variando de positivas as negativas. Distúrbios respiratórios, auditivos e visuais são considerados mais toleráveis, enquanto dores no corpo e nas costas são frequentes e graves. A presença de doenças ocupacionais é ressaltada em relação a alterações de sono e dores nas pernas, indicando uma conexão entre atividades laborais e condições de saúde.

**Danos Psicológicos:** A percepção é predominantemente negativa, com impacto significativo sobre o bem-estar psicológico. Indicadores como sensação de vazio e mau humor são avaliados de moderados a críticos, sugerindo desgaste emocional. Sentimentos graves, como amargura e solidão, indicam o possível desenvolvimento de condições psicológicas severas.

**Danos Sociais:** Os policiais percebem que o trabalho afeta criticamente suas relações sociais. Insensibilidade em relação aos colegas e dificuldades nas relações fora do trabalho demonstram um impacto negativo sobre a dinâmica social. A vontade de se isolar e a impaciência com as pessoas são avaliadas de forma grave, sugerindo um isolamento progressivo.

Em síntese, a percepção dos policiais penais sobre os danos físicos, psicológicos e sociais decorrentes de suas funções indica um panorama de vulnerabilidade e risco ocupacional significativo. As avaliações negativas e críticas apontam para a necessidade de intervenções que promovam a saúde integral ocupacional.

3.5 Relatório de Resultados da Pesquisa de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho – EVENT

A pesquisa teve como objetivo avaliar a vulnerabilidade ao estresse no ambiente de trabalho entre os policiais penais do Estado do Paraná, abrangendo diversas regiões.

3.5.1 Resultados Obtidos

A análise da percepção dos policiais penais sobre a Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho revela um processo metodológico rigoroso e uma amostra representativa. A taxa de participação variou de 3,7% a 23,3%, destacando Guarapuava como a que teve a maior taxa de retorno. O total de pesquisas preenchidas representa aproximadamente 8,8% do total de filiados, indicando um envolvimento significativo dos policiais na investigação. Um ausência de anulações sugere que o instrumento de pesquisa foi bem compreendido, assegurando a validade e confiabilidade das respostas coletadas.

Em suma, a percepção dos policiais penais sobre a vulnerabilidade ao estresse, conforme delineada pela pesquisa EVENT, baseia-se em uma coleta de dados robusta. Isso permite que as conclusões sejam consideradas confiáveis para a compreensão das condições de trabalho e do bem-estar dos policiais no Paraná.

3.5.2 Análise dos Resultados da Pesquisa por Fator

A análise segmentada dos resultados revela um panorama desafiador em diversos aspectos cruciais para a saúde organizacional e individual.

**Clima e Funcionamento Organizacional:** Um alto percentual de policiais considera o ambiente físico inadequado e manifesta insatisfação com a autoridade, seja por parte de colegas ou superiores. A falta de perspectivas e oportunidades de progressão na carreira reflete um contexto de desmotivação.

**Pressão no Trabalho:** Muitos policiais relatam acumular funções e responsabilidades, além de auxiliar colegas em um ritmo acelerado, intensificando o estresse ocupacional.

**Infraestrutura e Rotina:** Queixas sobre equipamentos e iluminação inadequados são frequentes, impactando diretamente a eficiência e segurança. A preocupação com doenças ou acidentes pessoais indica um ambiente em que a saúde está sob risco, e mudanças na jornada de trabalho geram incerteza e estresse.

Os resultados destacam a urgência de intervenções estratégicas para melhorar o ambiente de trabalho dos policiais penais no Estado do Paraná. As recomendações incluem aprimoramentos na infraestrutura, revisão das políticas de gestão de pessoal e desenvolvimento de estratégias para aliviar a pressão laboral.

3.5.2.1 Análise dos Dados da Pesquisa: Total Geral

A análise dos dados revela um cenário preocupante em relação à vulnerabilidade ao estresse ocupacional. Com 53,7 pontos brutos e um percentil de 90%, os policiais penais estão entre os 10% dos trabalhadores que apresentam maior vulnerabilidade ao estresse.

Essa classificação indica um elevado nível de exposição a fatores estressantes, colocando esses profissionais em risco significativo. O estresse ocupacional pode desencadear problemas de saúde mental e física, afetando negativamente a qualidade de vida dos policiais e a eficácia do sistema penitenciário.

Diante dessas constatações, é imperativo adotar medidas para enfrentar as causas e mitigar os efeitos do estresse ocupacional. Isso inclui o desenvolvimento de programas de suporte psicológico e a melhoria das condições físicas e ambientais de trabalho, visando ao bem-estar dos profissionais e à eficácia dos serviços prestados pelo sistema penitenciário paranaense.

3.6 A percepção dos policiais penais sobre os cuidados com a saúde

A saúde dos policiais penais é um tema de crescente relevância, considerando as condições estressantes e muitas vezes traumáticas de seu trabalho. Os resultados da pesquisa revelam um panorama preocupante, com 66,4% dos policiais relatando problemas de saúde, refletindo os impactos físicos e psicológicos da função.

O estresse, mencionado por 17,7% dos entrevistados, é um dos principais problemas de saúde enfrentados. Esse estresse crônico pode resultar do contato constante com situações de alta tensão e da necessidade de manter a ordem em ambientes hostis, além de ser um fator precipitante para problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, que também foram significativamente relatados.

A prevalência de hipertensão (12,8%) entre os policiais é alarmante, pois não apenas resulta de estresse prolongado, mas também representa um fator de risco para doenças cardiovasculares graves. Estilos de vida, incluindo turnos longos, alimentação inadequada e falta de atividade física, podem agravar essa condição.

É preocupante que quase metade dos policiais (46,2%) já tenha recebido um diagnóstico médico, indicando a necessidade de atenção contínua à saúde desses profissionais. A busca por ajuda profissional é um sinal positivo, demonstrando que os policiais reconhecem a importância de cuidar de sua saúde e bem-estar. No entanto, a alta taxa de uso de medicação (48,1%) para transtornos mentais sugere que as intervenções terapêuticas podem não ser suficientemente eficazes ou que os fatores de estresse permanecem elevados.

A duração do uso de medicação também merece atenção, pois muitos policiais a utilizam por períodos prolongados, indicando a cronicidade dos problemas de saúde e a necessidade de estratégias de prevenção e intervenção mais robustas.

Os afastamentos do trabalho por motivos de saúde, que atingiram 39,4% dos policiais, evidenciam um impacto direto na força de trabalho e na prestação de serviços. As licenças para tratamento de saúde física e mental indicam que o estresse ocupacional pode estar comprometendo a capacidade operacional do sistema prisional.

Esses dados ressaltam a necessidade de políticas de saúde ocupacional mais eficazes, incluindo programas de prevenção e tratamento de doenças físicas e mentais, além de apoio psicológico contínuo. É fundamental desenvolver estratégias de gestão do estresse e promover um ambiente de trabalho mais saudável. A conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde e o incentivo a práticas de vida saudáveis são essenciais para melhorar a qualidade de vida desses profissionais e manter a eficácia do serviço que prestam à sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da saúde física, mental e emocional dos policiais penais do Estado do Paraná revela um cenário complexo e preocupante, exigindo intervenções multidisciplinares urgentes.

Em relação à saúde física, 66,4% dos policiais penais reportam algum tipo de condição de saúde, destacando doenças relacionadas ao estresse, como hipertensão e condições psicossomáticas. Isso sugere uma associação direta entre o ambiente de trabalho e o impacto na saúde dos policiais. A busca por ajuda médica e psiquiátrica evidencia a consciência dos profissionais sobre suas condições e a necessidade de suporte especializado.

Quanto à saúde mental e emocional, os dados são alarmantes. A incidência de estresse, ansiedade e distúrbios do sono, aliada ao uso prolongado de medicação psicotrópica, reflete um quadro de alta morbidade psicológica. Quase 40% dos policiais se afastaram do trabalho por motivos de saúde, especialmente para tratamento de saúde mental, sublinhando o impacto emocional do trabalho.

O estudo aponta para a necessidade de acompanhamento contínuo da saúde desses profissionais. A prevalência de diagnósticos e o uso prolongado de medicação sugerem que as intervenções atuais podem não ser eficazes, demandando estratégias mais robustas de prevenção e tratamento.

As recomendações incluem a melhoria das condições de trabalho, o desenvolvimento de programas de saúde mental e a oferta de apoio psicológico. Também é essencial implementar medidas preventivas e promocionais de saúde, como educação em saúde e incentivos para a adoção de estilos de vida saudáveis.

Em suma, as conclusões do estudo ressaltam a importância de reconhecer a saúde dos policiais penais como um componente crítico para a eficácia e sustentabilidade do sistema penitenciário. É imperativo que as autoridades adotem medidas que visem ao bem-estar integral desses profissionais, promovendo a saúde individual e coletiva, e consequentemente, a eficiência e a qualidade do sistema prisional e dos serviços prestados à sociedade paranaense.

REFERÊNCIAS

 

CARRETONI FILHO, H. e PREBIANCHI, H. B (1999). Roteiro de Anamnese do Exame Clínico Psicológico. São Paulo, Casa do Dragão Psicólogo.

CHIAVENATO, I (2014). Recursos Humanos: o Capital Humano das Organizações. São Paulo, Elsevier-Campus.

DEJOURS, C (1987). A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez.

FERMINO F. BAPTISTA, MAKILIN N.; NORONHA, ANA PAULA P.; SANTOS, ACÁCIA A. ANSISTO (2009). ACONTECIMENTO- Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho. São Paulo: Vetor.

MENDES, A. M (2007). Psicodinâmica do trabalho: teoria, Método e Pesquisas. São Paulo, Casa do Psicólogo.

MOURA, T.W. e RIBEIRO, N.C.T (16 de fevereiro de 2024). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Brasília: Departamento Penitenciário Nacional – Ministério da Justiça, junho de 2014. relatorio-depen-versao-web.pdf (justica.gov.br)   

SINDICATO DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS DO PARANÁ (2016). Operários do cárcere: diagnóstico sobre a saúde e as condições de trabalho agentes penitenciários no Paraná. http://www.sindarspen.org.br/upload/download/856

Comentários