A percepção do policial penal do Estado do Paraná sobre a organização e as condições de trabalho e suas repercussões em sua qualidade de vida.
Dr. Rubem A. Mariano
Psicólogo - CRP 08/14994
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"Por trás da vitrine, há o
sofrimento dos que trabalham. Aqueles que, pretensamente, não mais existem,
embora na verdade sejam uma legião, assumindo inúmeras tarefas arriscadas para
sua saúde." (Christophe Dejours, 1987)
Nos anos 1960, a abordagem em relação à saúde física, mental e emocional dos trabalhadores era substancialmente diferente da atual. Naquela época, a ênfase estava na saúde física como o principal indicador de bem-estar, concentrando-se em condições que afetavam diretamente o corpo, como lesões ocupacionais e doenças causadas pela exposição a agentes nocivos. A medicina do trabalho focava principalmente na prevenção de acidentes e na promoção de ergonomia básica, enquanto a saúde mental e emocional era frequentemente negligenciada. Transtornos como depressão, ansiedade e estresse relacionados ao trabalho não eram reconhecidos nem diagnosticados com a frequência observada hoje. Além disso, o estigma em torno da saúde mental desencorajava os trabalhadores a buscar ajuda ou discutir abertamente suas dificuldades emocionais.
Essa realidade também se refletia entre os trabalhadores da segurança.
Entretanto, entre 2015 e 2016, sob a liderança do Sindicato dos Agentes
Penitenciários do Estado do Paraná (SINDARSPEN), foi realizada uma pesquisa
pioneira coordenada pelo autor deste artigo, a qual examinou a saúde mental e
emocional dos policiais penais, abordando a organização, as condições de
trabalho e a qualidade de vida desses profissionais.
Os objetivos da pesquisa incluíram: 1) coletar a percepção dos policiais
penais sobre seu desempenho e condições de trabalho; 2) identificar riscos à
saúde enfrentados por esses profissionais; e 3) avaliar a qualidade de vida no
ambiente laboral, visando fornecer insights sobre suas condições de trabalho e
guiar ações para melhorar sua saúde mental.
Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos: 1)
um questionário baseado no modelo de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) de
Walton, adaptado ao contexto penitenciário; 2) o Inventário de Trabalho e Risco
de Adoecimento (ITRA); 3) a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho
(EVENTO); e 4) entrevistas e observações com base no Roteiro Anamnésico do Exame
Psicológico.
O estudo abrangeu nove regiões e todas as 35 unidades prisionais do
estado. Iniciada em outubro de 2015, a pesquisa foi gerida pelo Escritório
Regional de Maringá do SINDARSPEN, que forneceu o suporte logístico necessário.
Um dos dirigentes sindicais da época destacou a importância de uma nova
pesquisa para avaliar a situação da saúde mental, emocional e física dos
policiais penais do Estado do Paraná. Os principais resultados da investigação
realizada entre 2015 e 2016 foram publicados na revista "Operários do Cárcere",
que expôs as condições de trabalho dos policiais penais e possibilitou
denúncias ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Isso resultou em um Laudo
Técnico de Condições do Ambiente de Trabalho (LTCAT) e outras ações
pertinentes. Como consequência, foi instituído o Programa de Atenção
Psicossocial (PRUMOS) pelo Governo do Estado do Paraná, destinado ao
acompanhamento psicológico de policiais militares, civis, bombeiros militares,
servidores efetivos e contratados do Departamento Penitenciário, além de
peritos oficiais, ativos e inativos, e seus familiares. O PRUMOS é gerido pela
Assessoria de Planejamento Estratégico e Gestão de Projetos da Secretaria da
Segurança Pública do Paraná.
Este artigo aborda os seguintes tópicos: Introdução; Desenvolvimento: 1.
Metodologia Aplicada; 2. Relatos de policiais penais, vítimas de rebeliões; 3.
Análise dos resultados da pesquisa; Considerações finais e Referências.
DESENVOLVIMENTO
1.
Metodologia Aplicada
1.1 Conceito
e Características das Pesquisas
O questionário
destinado à avaliação da qualidade de vida no trabalho compreende:
a)
Caracterização do entrevistado.
b) PRIMEIRA
PARTE: aborda oito fatores do modelo de QVT de Walton, adaptados para a
realidade dos policiais penais, incluindo satisfação e insatisfação no
trabalho.
c) SEGUNDA
PARTE: inclui escalas do Inventário sobre o Trabalho e o Risco de Adoecimento
(ITRA) para diagnóstico dos riscos à saúde do trabalhador.
d) TERCEIRA
PARTE: trata das condições atuais de saúde do trabalhador, abordando problemas
de saúde, uso de medicamentos, licenças de trabalho e outros aspectos
relevantes.
1.1.2 Escala
de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT)
A Escala EVENT mensura a vulnerabilidade decorrente das circunstâncias
cotidianas do trabalho. Validada no Brasil pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP), é relevante para o estresse ocupacional, especialmente para
profissionais que não exigem ensino médio completo, mas podem ter nível
superior incompleto. A Escala avalia três fatores: Clima e Funcionamento
Organizacional, Pressão no Trabalho e Infraestrutura e Rotina.
1.2 Cálculo
Amostral das Pesquisas
1.2.1
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
Para esta pesquisa, foi adotado um erro amostral de 5% e um nível de
confiança de 95%, considerando uma população de 3.542 policiais penais do
Estado do Paraná. Aproximadamente 70% desses agentes trabalham diretamente com
presos, totalizando 2.480. Para uma amostra válida, eram necessárias no mínimo
296 respostas. A pesquisa obteve 831 respostas, superando amplamente os
critérios de validade.
1.2.2 Escala
de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT)
Na pesquisa com a Escala EVENT, o erro amostral foi de 6%, mantendo o
nível de confiança de 90% e considerando a mesma população. O mínimo requerido
para a amostra era de 211 respostas, e a pesquisa alcançou 249, qualificando-se
como estatisticamente válida.
1.2.3
Comparação dos Resultados e Justificativa da Diferença
As duas pesquisas, sobre a Qualidade de Vida no Trabalho e a Escala de
Vulnerabilidade ao Estresse, utilizaram abordagens distintas em relação ao erro
amostral e ao nível de confiança, impactando os resultados. A pesquisa sobre
Qualidade de Vida adotou um erro amostral de 5% e um nível de confiança de 95%,
resultando em 831 respostas, o que aumentou a confiabilidade dos dados. Já na
pesquisa com a Escala EVENT, um erro amostral de 6% e um nível de confiança de
90% implicam que as conclusões podem ser interpretadas com maior incerteza.
Essas diferenças ressaltam a importância da escolha do erro amostral e do nível
de confiança no planejamento de pesquisas.
1.3 Critérios
de Correção das Pesquisas
1.3.1
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
a)
Caracterização do entrevistado: soma dos pontos brutos e conversão em
percentis.
b) PRIMEIRA
PARTE: soma dos pontos brutos e conversão em percentis.
c) SEGUNDA
PARTE: avaliação positiva, moderada ou negativa conforme as pontuações.
d) TERCEIRA
PARTE: soma dos pontos brutos e conversão em percentis.
1.3.2 Escala
de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT)
Pontuação atribuída: zero pontos para "nunca", um ponto para
"às vezes" e dois pontos para "frequentemente". O somatório
da pontuação em cada fator é convertido em percentis, com classificação baseada
nos pontos obtidos.
2. Relatos de policiais
penais vítimas de rebeliões
No início de 2015, uma pesquisa foi realizada para compreender a
percepção dos policiais penais do Estado do Paraná sobre organização, condições
e qualidade de vida no trabalho. As entrevistas foram conduzidas em três
unidades prisionais: Maringá, Cruzeiro do Oeste e Guarapuava.
Os relatos revelaram um panorama preocupante. Os policiais viviam
sob constante tensão devido às condições de trabalho, especialmente durante o
contato com os detentos e nos dias de visita. A sensação de estar "sempre
com a cabeça no trabalho" reflete o impacto psicológico dessa rotina. Além
disso, o índice de alcoolismo entre os policiais é alarmante, mesmo com um alto
nível de escolaridade, como exemplificado pelo caso de um agente que
desenvolveu dependência alcoólica.
Observou-se uma diminuição significativa na motivação e satisfação
no trabalho entre os policiais com mais de 20 anos de serviço, indicando
possíveis sinais de burnout. Sintomas como estresse, insônia, ansiedade e
redução da libido foram frequentemente identificados, evidenciando a
necessidade urgente de intervenções para melhorar as condições de trabalho e a
saúde mental desses profissionais.
Em Maringá, os policiais expressaram sentimentos de abandono pelo
Estado, principalmente após arcarem com tratamentos psiquiátricos particulares
decorrentes da rebelião de 2011. Sintomas de estresse pós-traumático, como
revivência do evento, insônia e angústia, evidenciam o profundo impacto dessa
experiência.
Em Cruzeiro do Oeste, os relatos incluíram conflitos éticos e
denúncias de assédio moral, como ameaças e perseguições, indicando um ambiente
de trabalho tóxico. Em Guarapuava, as vítimas da rebelião de outubro de 2014
relataram estresse pós-traumático, transtornos obsessivos-compulsivos e
síndrome de burnout, com manifestações de sofrimento psíquico não expresso. A
ausência de acompanhamento adequado, apesar do suporte parcial da família e da
igreja, reforça a necessidade de um suporte mais estruturado e contínuo.
Os policiais de Maringá afetados pela rebelião de dezembro de 2014
descreveram a perda de orgulho e um impacto psicológico duradouro, manifestado
em sintomas como pesadelos, diarreia e agorafobia. A pressão para retornar ao
trabalho sem a devida preparação emocional acentua a percepção de negligência
por parte do Estado.
Essas experiências ressaltam a importância da implementação de
políticas e programas voltados para a promoção da saúde mental e a melhoria das
condições de trabalho dos policiais penais, além da necessidade de apoio
institucional em períodos de crise.
3. Análise dos
resultados da pesquisa
A análise dos resultados da pesquisa sobre Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT), Indicadores de Prazer-Sofrimento no Trabalho (EIPST), Avaliação
dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT), Relatório de Resultados da Pesquisa
de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) e as Condições de Saúde do
Trabalhador revela o perfil dos policiais penais entrevistados.
3.1 Caracterização do(a)
entrevistado(a)
O perfil dos entrevistados apresenta características reveladoras
sobre a composição desse grupo profissional. Predomina o gênero masculino, com
90,6% dos entrevistados. A presença feminina representa 9,4% do total. A faixa
etária dos participantes mostra uma força de trabalho madura, com a maioria
concentrada entre 31 e 50 anos. A baixa representatividade de jovens e a quase
inexistência de agentes acima de 61 anos sugerem que a carreira não se estende
por longos períodos, possivelmente devido às condições desafiadoras do
trabalho.
A maioria dos policiais penais é casada (72,1%), indicando uma
busca por estabilidade diante das adversidades da profissão. A presença de
filhos é significativa, impactando diretamente nas preocupações e no bem-estar
dos profissionais. A maioria possui até 10 anos de experiência, sugerindo uma
renovação no quadro de funcionários. A escolaridade é um ponto de destaque, com
um percentual expressivo possuindo educação superior, refletindo tanto uma
exigência crescente quanto um investimento pessoal em qualificação
profissional. A presença de agentes com pós-graduação também é notável,
indicando uma busca contínua por especialização.
Esse perfil aponta para um grupo que demanda políticas de saúde e
bem-estar específicas, considerando suas condições de trabalho e
responsabilidades familiares. A qualificação educacional elevada sinaliza a
importância de desenvolver estratégias que aproveitem e valorizem o capital
intelectual disponível.
3.2 Qualidade de Vida no
Trabalho (QVT)
A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é avaliada com base nas
necessidades e expectativas humanas, focando na humanização e responsabilidade
social. A percepção dos policiais penais revela um panorama complexo. No
aspecto financeiro, há um equilíbrio frágil entre satisfação e insatisfação com
o salário, evidenciando que a remuneração, embora não seja o único fator
motivacional, é um ponto sensível.
As condições de trabalho mostram insatisfação clara,
principalmente em relação à salubridade e equipamentos de segurança, elementos
essenciais para a saúde e bem-estar dos profissionais. Isso pode afetar a
motivação e a satisfação pessoal no trabalho.
Quanto ao uso das capacidades, os dados apontam descontentamento,
indicando uma lacuna entre as habilidades dos policiais penais e as
oportunidades para aplicá-las efetivamente. Isso sinaliza a necessidade de
políticas que valorizem a competência e promovam um ambiente laboral que
estimule o potencial individual.
As oportunidades de crescimento profissional e treinamentos são
criticamente insatisfatórias. A falta de perspectivas de desenvolvimento pode
levar ao desânimo e à estagnação profissional. Em contraste, a integração
social no trabalho é um ponto positivo, com a maioria dos policiais penais
satisfeitos com a inclusão social e o acolhimento de ideias.
No entanto, a insatisfação retorna em relação ao respeito aos
direitos trabalhistas e à liberdade de expressão, aspectos essenciais para um
ambiente justo e democrático. A percepção de que esses direitos não são
plenamente assegurados pode gerar um clima de insegurança.
Em relação ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a
insatisfação é evidente, indicando que os policiais penais percebem um
desequilíbrio que afeta seu lazer e qualidade de vida fora a do trabalho. Um
relevância social do trabalho e as políticas de Recursos Humanos do Estado
geram insatisfação significativa, o que pode afetar o sentimento de
pertencimento e orgulho associado à profissão.
Em suma, a análise da percepção dos policiais penais em relação à
QVT destaca a necessidade de uma abordagem integrada para melhorar as condições
de trabalho e a satisfação profissional, considerando tanto aspectos tangíveis
quanto subjetivos.
3.3 Indicadores de
Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST)
A análise da percepção dos policiais penais sobre o prazer e
sofrimento em suas atividades laborais revela um quadro complexo, marcado por
sentimentos contraditórios e uma tendência geral de insatisfação. Essa
percepção se divide em quatro esferas interligadas: realização profissional,
liberdade, sofrimento e falta de reconhecimento.
**Realização
Profissional:** Os dados evidenciam uma predominância de sentimentos negativos.
As avaliações dos indicadores "orgulho pelo que faço" e
"identificação com minhas tarefas" variam de moderadas a críticas,
sugerindo um descompasso entre as expectativas e a prática cotidiana. Esse
desalinhamento é evidente em indicadores como "satisfação",
"motivação" e "bem-estar", refletindo desvalorização e
insatisfação.
**Liberdade:** A
percepção nesta esfera é menos negativa, mas ainda revela preocupações
substanciais. As avaliações oscilam entre moderadas e críticas em indicadores
que mensuram a liberdade para negociar com a chefia e expressar opiniões. Não
no entanto, nota-se uma leve positividade no indicador "solidariedade com os
colegas".
**Sofrimento:** A
percepção é unânime entre os policiais: o trabalho causa sofrimento
significativo, com avaliações negativas a graves em indicadores como
"esgotamento emocional", "estresse" e "medo".
Esse quadro de sofrimento pode impactar diretamente a saúde mental e física dos
profissionais.
**Falta de
Reconhecimento:** A visão nessa esfera é predominantemente negativa, com
avaliações críticas em indicadores como "inutilidade" e
"desqualificação". A percepção de falta de reconhecimento pelo
esforço e desempenho indica uma lacuna significativa entre as expectativas e a
valorização das contribuições dos policiais.
Em suma, a percepção dos policiais penais sobre prazer e
sofrimento em suas atividades é majoritariamente negativa, destacando a falta
de realização profissional, limitações à liberdade, sofrimento psicológico e
falta de reconhecimento. Essas constatações apontam para a urgência de
intervenções voltadas à melhoria das condições de trabalho e promoção de um
ambiente mais justo.
3.4 Avaliação dos Danos
Relacionados ao Trabalho (EADRT)
Esta seção explora a percepção dos policiais penais sobre os danos
decorrentes de suas funções, abordando danos físicos, psicológicos e sociais.
**Danos Físicos:** A
avaliação revela percepções variando de positivas as negativas. Distúrbios
respiratórios, auditivos e visuais são considerados mais toleráveis, enquanto
dores no corpo e nas costas são frequentes e graves. A presença de doenças
ocupacionais é ressaltada em relação a alterações de sono e dores nas pernas, indicando
uma conexão entre atividades laborais e condições de saúde.
**Danos Psicológicos:**
A percepção é predominantemente negativa, com impacto significativo sobre o
bem-estar psicológico. Indicadores como sensação de vazio e mau humor são
avaliados de moderados a críticos, sugerindo desgaste emocional. Sentimentos
graves, como amargura e solidão, indicam o possível desenvolvimento de
condições psicológicas severas.
**Danos Sociais:** Os
policiais percebem que o trabalho afeta criticamente suas relações sociais.
Insensibilidade em relação aos colegas e dificuldades nas relações fora do
trabalho demonstram um impacto negativo sobre a dinâmica social. A vontade de
se isolar e a impaciência com as pessoas são avaliadas de forma grave,
sugerindo um isolamento progressivo.
Em síntese, a percepção dos policiais penais sobre os danos
físicos, psicológicos e sociais decorrentes de suas funções indica um panorama
de vulnerabilidade e risco ocupacional significativo. As avaliações negativas e
críticas apontam para a necessidade de intervenções que promovam a saúde
integral ocupacional.
3.5 Relatório de
Resultados da Pesquisa de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho – EVENT
A pesquisa teve como objetivo avaliar a vulnerabilidade ao
estresse no ambiente de trabalho entre os policiais penais do Estado do Paraná,
abrangendo diversas regiões.
3.5.1 Resultados
Obtidos
A análise da percepção dos policiais penais sobre a
Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho revela um processo metodológico
rigoroso e uma amostra representativa. A taxa de participação variou de 3,7% a
23,3%, destacando Guarapuava como a que teve a maior taxa de retorno. O total
de pesquisas preenchidas representa aproximadamente 8,8% do total de filiados,
indicando um envolvimento significativo dos policiais na investigação. Um
ausência de anulações sugere que o instrumento de pesquisa foi bem compreendido,
assegurando a validade e confiabilidade das respostas coletadas.
Em suma, a percepção dos policiais penais sobre a vulnerabilidade
ao estresse, conforme delineada pela pesquisa EVENT, baseia-se em uma coleta de
dados robusta. Isso permite que as conclusões sejam consideradas confiáveis
para a compreensão das condições de trabalho e do bem-estar dos policiais no
Paraná.
3.5.2 Análise dos
Resultados da Pesquisa por Fator
A análise segmentada dos resultados revela um panorama desafiador
em diversos aspectos cruciais para a saúde organizacional e individual.
**Clima e Funcionamento
Organizacional:** Um alto percentual de policiais considera o ambiente físico
inadequado e manifesta insatisfação com a autoridade, seja por parte de colegas
ou superiores. A falta de perspectivas e oportunidades de progressão na carreira
reflete um contexto de desmotivação.
**Pressão no Trabalho:**
Muitos policiais relatam acumular funções e responsabilidades, além de auxiliar
colegas em um ritmo acelerado, intensificando o estresse ocupacional.
**Infraestrutura e
Rotina:** Queixas sobre equipamentos e iluminação inadequados são frequentes,
impactando diretamente a eficiência e segurança. A preocupação com doenças ou
acidentes pessoais indica um ambiente em que a saúde está sob risco, e mudanças
na jornada de trabalho geram incerteza e estresse.
Os resultados destacam a urgência de intervenções estratégicas
para melhorar o ambiente de trabalho dos policiais penais no Estado do Paraná.
As recomendações incluem aprimoramentos na infraestrutura, revisão das
políticas de gestão de pessoal e desenvolvimento de estratégias para aliviar a
pressão laboral.
3.5.2.1 Análise dos
Dados da Pesquisa: Total Geral
A análise dos dados revela um cenário preocupante em relação à
vulnerabilidade ao estresse ocupacional. Com 53,7 pontos brutos e um percentil
de 90%, os policiais penais estão entre os 10% dos trabalhadores que apresentam
maior vulnerabilidade ao estresse.
Essa classificação indica um elevado nível de exposição a fatores
estressantes, colocando esses profissionais em risco significativo. O estresse
ocupacional pode desencadear problemas de saúde mental e física, afetando
negativamente a qualidade de vida dos policiais e a eficácia do sistema
penitenciário.
Diante dessas constatações, é imperativo adotar medidas para
enfrentar as causas e mitigar os efeitos do estresse ocupacional. Isso inclui o
desenvolvimento de programas de suporte psicológico e a melhoria das condições
físicas e ambientais de trabalho, visando ao bem-estar dos profissionais e à
eficácia dos serviços prestados pelo sistema penitenciário paranaense.
3.6 A percepção dos
policiais penais sobre os cuidados com a saúde
A saúde dos policiais penais é um tema de crescente relevância,
considerando as condições estressantes e muitas vezes traumáticas de seu
trabalho. Os resultados da pesquisa revelam um panorama preocupante, com 66,4%
dos policiais relatando problemas de saúde, refletindo os impactos físicos e
psicológicos da função.
O estresse, mencionado por 17,7% dos entrevistados, é um dos
principais problemas de saúde enfrentados. Esse estresse crônico pode resultar
do contato constante com situações de alta tensão e da necessidade de manter a
ordem em ambientes hostis, além de ser um fator precipitante para problemas de
saúde mental, como ansiedade e depressão, que também foram significativamente
relatados.
A prevalência de hipertensão (12,8%) entre os policiais é
alarmante, pois não apenas resulta de estresse prolongado, mas também
representa um fator de risco para doenças cardiovasculares graves. Estilos de
vida, incluindo turnos longos, alimentação inadequada e falta de atividade
física, podem agravar essa condição.
É preocupante que quase metade dos policiais (46,2%) já tenha
recebido um diagnóstico médico, indicando a necessidade de atenção contínua à
saúde desses profissionais. A busca por ajuda profissional é um sinal positivo,
demonstrando que os policiais reconhecem a importância de cuidar de sua saúde e
bem-estar. No entanto, a alta taxa de uso de medicação (48,1%) para transtornos
mentais sugere que as intervenções terapêuticas podem não ser suficientemente
eficazes ou que os fatores de estresse permanecem elevados.
A duração do uso de medicação também merece atenção, pois muitos
policiais a utilizam por períodos prolongados, indicando a cronicidade dos
problemas de saúde e a necessidade de estratégias de prevenção e intervenção
mais robustas.
Os afastamentos do trabalho por motivos de saúde, que atingiram
39,4% dos policiais, evidenciam um impacto direto na força de trabalho e na
prestação de serviços. As licenças para tratamento de saúde física e mental
indicam que o estresse ocupacional pode estar comprometendo a capacidade
operacional do sistema prisional.
Esses dados ressaltam a necessidade de políticas de saúde
ocupacional mais eficazes, incluindo programas de prevenção e tratamento de
doenças físicas e mentais, além de apoio psicológico contínuo. É fundamental
desenvolver estratégias de gestão do estresse e promover um ambiente de
trabalho mais saudável. A conscientização sobre a importância dos cuidados com
a saúde e o incentivo a práticas de vida saudáveis são essenciais para melhorar
a qualidade de vida desses profissionais e manter a eficácia do serviço que
prestam à sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da saúde física, mental e emocional dos policiais penais
do Estado do Paraná revela um cenário complexo e preocupante, exigindo
intervenções multidisciplinares urgentes.
Em relação à saúde física, 66,4% dos policiais penais reportam
algum tipo de condição de saúde, destacando doenças relacionadas ao estresse,
como hipertensão e condições psicossomáticas. Isso sugere uma associação direta
entre o ambiente de trabalho e o impacto na saúde dos policiais. A busca por
ajuda médica e psiquiátrica evidencia a consciência dos profissionais sobre
suas condições e a necessidade de suporte especializado.
Quanto à saúde mental e emocional, os dados são alarmantes. A
incidência de estresse, ansiedade e distúrbios do sono, aliada ao uso
prolongado de medicação psicotrópica, reflete um quadro de alta morbidade
psicológica. Quase 40% dos policiais se afastaram do trabalho por motivos de
saúde, especialmente para tratamento de saúde mental, sublinhando o impacto
emocional do trabalho.
O estudo aponta para a necessidade de acompanhamento contínuo da
saúde desses profissionais. A prevalência de diagnósticos e o uso prolongado de
medicação sugerem que as intervenções atuais podem não ser eficazes, demandando
estratégias mais robustas de prevenção e tratamento.
As recomendações incluem a melhoria das condições de trabalho, o
desenvolvimento de programas de saúde mental e a oferta de apoio psicológico.
Também é essencial implementar medidas preventivas e promocionais de saúde,
como educação em saúde e incentivos para a adoção de estilos de vida saudáveis.
Em suma, as conclusões do estudo ressaltam a importância de
reconhecer a saúde dos policiais penais como um componente crítico para a
eficácia e sustentabilidade do sistema penitenciário. É imperativo que as
autoridades adotem medidas que visem ao bem-estar integral desses
profissionais, promovendo a saúde individual e coletiva, e consequentemente, a
eficiência e a qualidade do sistema prisional e dos serviços prestados à
sociedade paranaense.
REFERÊNCIAS
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Psicólogo.
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FERMINO F. BAPTISTA, MAKILIN N.; NORONHA, ANA PAULA P.;
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Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho. São Paulo: Vetor.
MENDES, A. M (2007). Psicodinâmica do trabalho: teoria,
Método e Pesquisas. São Paulo, Casa do Psicólogo.
MOURA, T.W. e RIBEIRO, N.C.T (16 de fevereiro de 2024). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Brasília: Departamento Penitenciário Nacional – Ministério da Justiça, junho de 2014. relatorio-depen-versao-web.pdf (justica.gov.br)
SINDICATO DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS DO PARANÁ (2016). Operários do cárcere: diagnóstico sobre a saúde e as condições de trabalho agentes penitenciários no Paraná. http://www.sindarspen.org.br/upload/download/856
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